quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - Zona Final

A história de hoje vai ser pesada, estejam avisados. Estamos em setembro, o amarelo, o contra a depressão, o contra o suicídio. Vamos nos suicidar juntos? Se quiserem, podem colocar de fundo uma trilha sonora também: Goo Goo Dolls - Black Balloon

-O que eu fiz de errado?
-Você não fez nada de errado.
-Então por quê?
-Algumas coisas chegam ao fim. "Nós" é uma delas.
Acordei ofegante, com lágrimas nos olhos. Eu era uma daquelas pessoas românticas, que namoravam pensando em casar. Meu primeiro namoro não tinha dado certo pois eu era jovem, curiosa e infiel. Confesso. Terminamos por não um, mas vários erros meus. Segundo ele, a confiança tinha se quebrado. Eu o amava, mas não conseguia mudar aquela característica. Aquela pequena característica. Era como se procurasse nas pessoas um conforto para algo, que nunca encontrava. Na verdade, nunca encontrei.
Meu segundo namorado era o tipo carinhoso e atencioso. Abria a porta do carro pra mim, me levava pra sair, me dava presentes, me trazia flores. O namorado ideal. Nunca brigamos, nem sequer uma discussão. Se algum problema surgia, sentávamos e conversávamos. E resolvíamos. Naquele dia não foi diferente. Sem gritos, sem violência. Ele não me beijou, apenas afagou meus cabelos e se foi. Por várias vezes pensei em ir atrás dele, mas não tinha coragem. Foi uma mudança sutil e quase ninguém percebeu, mas comecei a me isolar. Ainda postava fotos nas redes sociais e interagia com os amigos pela internet. Só pela internet. Se me chamavam para sair, dava uma desculpa para não ir. Ninguém percebeu que minhas fotos eram todas tiradas em casa. Ninguém percebeu a maquiagem cobrindo as olheiras. Nem o piso cheio das coisas que eu usava e tinha preguiça de guardar. Algo dentro de mim havia se partido.
Não faziam muitos dias que o tinha visto. Tinha saído pra comprar comida no mercado e o vi com outra mulher. Ela era linda e ele sorria. Me escondi por um instante, pensando que estava vendo algo proibido. Então senti raiva. Aquele homem era meu. Pensei em ir até ele, tomar seu braço e arrastá-lo pra longe comigo. Fugir, sim! Podíamos fugir pra bem longe e ficar juntos de novo. Tudo ficaria bem. Tudo estava bem. Eu nem queria terminar, pra começo de conversa. Mas ele colocou o braço por cima dos ombros dela e andaram juntos até o caixa. Continuei olhando enquanto passavam as compras, pagavam a conta, embalavam os produtos. Sorriam e conversavam. Pareciam genuinamente felizes. Me agachei, abracei os joelhos e comecei a chorar, ali mesmo. Se alguém me viu, não disse nada. Desisti das compras e voltei pra casa, arrasada. O que tinha se partido tinha, naquele momento, se estilhaçado. Realmente, não tinha mais volta. E nenhum outro caminho para onde ir.
Pesquisei algumas formas comuns pelas quais as pessoas se matam. Banheira? Muito sangue. Comprimidos? Alguém podia me achar, me levar pra um hospital e minha tentativa seria em vão. Afogamento? Eu sabia nadar, as chances de dar errado eram fortes. Enforcamento? Devia doer. Se jogar?
É, parecia que eu tinha encontrado minha forma. Só precisava de um lugar alto o bastante. Com movimento o bastante. Se a altura não me matasse primeiro, com certeza algum carro iria. Olhei no calendário. Meu aniversário se aproximava. Sabia de algumas pessoas que gostariam de comemorar comigo, então sugeri de irmos a um restaurante bem caro que ficava no terraço de um hotel famoso. Juntei minhas economias. Convidei todas as pessoas que podia e que não podia, inclusive meus ex-namorados. Comi do bom e do melhor, bebi do vinho mais caro, ri e tirei fotos. Qualquer um que perguntasse diria que eu estava ótima, que nunca imaginaria. Mas não eram eles que tinham imaginado, e sim eu.
Quando todos estavam bêbados demais ou distraídos demais para darem conta, andei até a beirada e subi. Me virei e me surpreendi por um instante. Lá estava ele, olhando para mim, com os olhos esbugalhados. Vi como se fosse em câmera lenta. Ele se levantou enquanto eu dei um passo para trás. Esticou o braço enquanto seu corpo se projetava para frente, enquanto meu corpo começou a cair. Fechei os olhos e senti as lágrimas escorrerem. A sensação era boa, não haviam arrependimentos. Era mesmo o fim.

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