domingo, 8 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - O Afogamento

Primeiro quero me desculpar por não ter escrito ontem, mas estava fora o dia todo, literalmente. Hoje vou escrever uma história um pouco dramática, baseada em fatos que me foram contados e que podem ou não ser contados, tudo vai depender da minha (falta de) memória.

Nossa família estava reunida em uma colônia de férias e o lugar estava abarrotado de gente. A piscina costumava estar cheia durante todo o período em que estava aberta ao público, então às vezes preferíamos fazer a pequena caminhada que nos separava da praia. Ela também era lotada, mas pelo menos o único lugar em que tínhamos que disputar espaço era na areia. Dentro da água, éramos livres. Naquele dia, no entanto, tínhamos decidido usar a piscina, pois ouvimos de um caso de um garoto que quase tinha se afogado na praia, perto das rochas. Supostamente estava brincando com os primos e não percebeu que já não dava pé. A piscina, por mais lotada que fosse, não tinha o risco de não dar pé. Ajudei as crianças a se vestirem e rumamos para a piscina. Estendi a toalha na beirada, em um cantinho que ainda não estava ocupado, e fiquei observando. E foi enquanto observava um dos meus filhos nadar que notei uma criança. Especificamente a posição em que ela se encontrava.
-Amor, vem aqui!
Quando meu marido se aproximou, um pouco assustado com o meu tom de voz, olhou para onde eu estava apontando. Ele deu um suspiro aliviado quando percebeu que não era um dos nossos filhos, mas logo ficou com o olhar tão atônito quanto o meu.
-Está se afogando?
-Parece que está, não parece?
O garoto em questão estava com uma boia e provavelmente, por esse motivo, os pais não tivessem notado que, apesar da bóia, a parte superior do corpo do garoto estava curvada para a frente, seu rosto parecia estar caído na água e ele chacoalhava os braços. Para mim, parecia uma tentativa desesperada de tentar retomar o equilíbrio perdido e conseguir respirar novamente. Não precisei dizer mais nada. Meu marido  logo arrancou a camisa e se jogou na piscina, indo de encontro ao garoto. Primeiro o levantou e depois, o puxou para fora da piscina. O menino tossiu algumas vezes e começou a respirar de forma forte, ofegante. Para mim não haviam dúvidas de que estava se afogando. Notei que dois adultos se aproximaram do meu marido e começaram a conversar com ele. Resolvi ir ver do que se tratava e me surpreendi.
-O senhor está é sendo um intrometido. Cuide de sua vida!
Pegaram o garoto pelo braço e começaram a arrastá-lo para longe. O menino ainda olhou pra trás e acenou um tchau. Quando perguntei para meu marido o que tinha acontecido ele me explicou que os pais o viram tirando o menino da água e o acusaram de estragar a brincadeira.
-Mas ele estava se afogando, não estava?
Meu marido deu de ombros. Não sabia se ficava brava com a atitude dos pais ou se me preocupava mais com o garoto. Instintivamente, olhei para meus garotos. Estavam brincando animadamente, jogando água um no outro. Aquilo aliviou um pouco da minha raiva, mas não da minha preocupação. Então procurei a gerência e relatei o ocorrido. No dia seguinte, não reparei mudanças, nem no seguinte. Apenas no terceiro dia notei, finalmente, que haviam colocado um rapaz com colete, que ficava andando em volta da piscina nos horários mais cheios. Soube mais tarde que ainda naquele ano, uma pessoa realmente quase se afogou depois de entrar bêbada na piscina. Com isso, restringiram a entrada de pessoas com alimentos. Muita gente reclamou mas eu acabei gostando da mudança. Voltamos naquela colônia outras vezes e toda vez eu acabava me lembrando do garotinho. O mínimo que eu esperava era que seus pais tivessem se tornado mais observadores depois daquilo. Quando contava sobre o que tinha acontecido para outras pessoas, todos diziam que ele provavelmente não estava se afogando e que, provavelmente, eu e meu marido que tínhamos sido desesperados. Prefiro pensar que salvamos a vida dele.

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