sábado, 14 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - O Caixão

A história de hoje não foi escrita por mim, confesso, mas sim pelo meu colega de trabalho, o Luciano, que viu o título e resolveu escrever. Achei interessante e gostei da história, então, aproveitando que meu cérebro estava fundindo hoje, resolvi aceitar a história dele. Espero que não se importem, e que apreciem o esforço dele.

Um certo dia de sol , no qual nem tudo estava dando certo da devida forma em que eu esperava, uma onda de calor avassaladora fez com que minha querida avó, na época com 76 anos de idade, fosse parar no hospital por insolação. Fiquei com medo e e bem triste , pois ela estava bem animada porque iria receber  sua compra que fez pela primeira vez através da internet. Infelizmente não pude acompanhá-la no hospital, uma vez que eu só tinha 13 anos de idade. Naquele dia todas as coisas que me deixavam aflito estavam acontecendo, e portanto o meu medo estava cada vez mais potencializado. Naquele dia eu não desgrudei do telefone, passeia a tarde toda esperando, aguardando uma ligação de minha mãe para dar notícias sobre minha avó. Eis que toca a campainha lá de baixo e meu pai, que estava comigo em casa, corre para atender. Eu fiquei estático sem nem me importar com o que se tratava. De repente, não mais que de repente, toca o telefone : TRIIIIIIIIIN, TRIIIIIN...  Sim, era minha mãe ligando para dar notícias de minha vovó. Novamente corre meu pai, no entanto agora para o telefone. Eu ansioso por uma boa informação, fiquei caladinho atrás da porta da sala ouvindo minuciosamente as falas do meu pai, uma vez que eu ja sabia o quanto ele gostava de privacidade para falar ao telefone. Num momento específico da conversa, meu pai diz para minha mãe que já sabia que não seria como o esperado, pois se tratava de uma idosa . Naquele momento me arrepiei dos pés a cabeça. Mesmo sem saber do que estavam falando, comecei a ficar nervoso. Senti minha temperatura subindo de vez. E as falas desagradáveis de meu pai não pararam por aí, ele disse em um tom mais exaltado o seguinte para minha mãe no telefone.
-Eu já esperava que não desse certo. Agora não sei o que farei com o 'caixão'. Sabia que pior estava por vir.
Naquele instante, uma generosa lágrima caiu dos meus olhos. Corri em direção ao meu quarto e me pus a chorar no canto da cama como um alguém que acabara de perder sua razão de viver. Estava inconsolável. Só me restava chorar. Como não existe nada tão ruim que não possa ficar pior, entra meu pai  no quarto.
-Filho, me ajude a colocar aquele caixão de sua avó lá na garagem? Está muito pesado.
Já era o fim pra mim, mas pensei. Eis minha ultima chance de retribuir as coisas que ela fez por mim. Meu pai me olhou com uma cara de surpreso e indagou.
-Por que estás a chorar como um alguém sem amor ?
E antes que eu fosse capaz de emitir minha resposta, toca a campainha e ouço minha mãe a chamar. Aquele calafrio me deixou tonto, mas encarei. Quando cheguei na sala não pude acreditar no que meus olhos viam. Exatamente, minha avó aparentemente saudável e andando. Meu  sorriso foi tão espontâneo e longo que quase rasguei minha boca. Não estava entendendo nada  e, quando fui questionar meu pai a respeito  ele me explicou que não passou de um mau entendido por parte minha. Ele me esclareceu que "O caixão" ao qual se referia  na realidade era o pacote da encomenda que minha avó teria comprado pela internet, e que sua insatisfação era referente ao tamanho do pacote, pois estávamos falando de uma lavadora de roupas de 16 quilos. O alívio foi imediato, foi como a cura de um câncer. Daquele dia em diante passei a perceber quão importante era a vida da minha avó para mim, sobre tudo que não devo escutar e/ou me apropriar de informações inconsistentes antecipadamente, sem que haja veracidade comprovada. E para minha avó sobraram abraços e " eu te amo".

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