sábado, 18 de agosto de 2018

Subindo nas Paredes

Já faz tempo, não é mesmo? Não me culpem, a vida anda difícil do lado de cá. Ao invés de me desculpar, vou lhes contar algumas novidades que andam acontecendo na minha vida e que, como diz o título, andam me fazendo querer subir pelas paredes. Ou, em referência a Michael Kail, personagem icônico da minha vida e do seriado “Eu, a Patroa e as Crianças”, segurar o mundo pelos ombros, sacudí-lo e dizer “você está ficando louco!”
Passei no vestibular. Vou voltar a estudar. Soltem os fogos, os rojões e o confeti. A primeira aula era presencial e em um dia de plantão. Descobri isso num sábado, de noite. A aula seria na terça-feira. Corri atrás de uma boa alma que aceitasse fazer permuta comigo. Para aqueles que não sabem ou não conhecem o termo, permuta é o nome que damos para a troca de plantões entre dois agentes. No meu caso, procurei alguém que pudesse trabalhar na terça. Como estava em cima do prazo não fiz nenhuma reivindicação além de me manter os domingos livres. Isso resultou em um fim de semana inteiro trabalhando. Tudo bem, foi por uma boa causa, pensei. Fui pra aula na terça, anotei várias coisas que achei pertinentes, nada relativo à matéria e, às 20:00 horas, fui dispensada. Caso eu tivesse decidido que trabalharia e, apenas após isso, iria para lá, provavelmente teria dado com a cara na porta. Passei duas horas lá para, basicamente, assinar uma lista. Se arrependimento matasse…
Como saber se uma pessoa é honesta? Venda comida no seu trabalho. Ou qualquer tipo de produto, na verdade. Então aquela garota gordinha que adora comer vai comprar de você. E se você for uma pessoa justa, quando ela for te pagar no fim do dia pelos 4 doces que ela comprou, você vai lembrar que ela comprou 4 doces, não 5. E você não vai correr o risco de perder uma freguesa, pois ela decidiu que não vale o risco de ficar com a fama de caloteira por um doce a mais que ela nem comeu. Por outro lado, você também pode vender cupcakes! E a garota gordinha também vai comprar de você. E, quando ela for te pagar e você der a ela o troco, ela vai te perguntar por quantos cupcakes você a cobrou. E você vai perceber que deu troco por um, não dois cupcakes. Ela podia ter ficado quieta, mas ela te avisou sobre o troco a mais que você estava entregando. “Que bom que você é honesta”. Ou ainda, você pode vender tortas salgadas e pedaços de bolo. E, mais uma vez, lá está a gordinha, comprando. Passou um plantão e ela não te pagou. No plantão seguinte ela nem está lá. Mas você nem sente a falta dela. Tem tanta gente que é normal você não perceber que tem uma pessoa faltando. Verdade seja dita, você mesma nem sabe o nome de todas as pessoas que trabalham com você. Ainda assim, no plantão seguinte te avisam que estão te procurando. Quem Alguma das agentes de portaria, te respondem. E quando você as procura para saber sobre o que é, a garota gordinha te entrega o dinheiro que você nem lembrava mais. As pessoas se surpreendem com atitudes como essas. Eu me surpreendo na verdade é com o fato de que as pessoas se surpreendem com a honestidade do outro. Não que eu não saiba que vivemos num mundo sujo e corrupto, mas ainda assim é uma realidade triste.
“O mundo não está preparado pra você”, ela me dizia. Eu achava que era eu que não estava preparada pra viver no mundo. Esperava o ônibus com meu celular na mão, vendo quanto tempo faltava pra que ele passasse quando, tarde demais pro meu próprio bem, percebi que seria abordada por um ladrão. “Tô com a oito na cintura, não faz escândalo e passa o celular vagabunda”. Vagabundo é você, sujeito maldito, que vem aqui roubar meu celular! Provavelmente pra comprar drogas. E eu trabalhando no pronto atendimento ali do lado. Durante alguns plantões após aquilo, tinha medo de ir pro ponto sozinha. Ainda hoje tenho medo das pessoas que chegam no pronto atendimento, achando que a qualquer momento aquele sujeito pode aparecer lá. E me ver. E me reconhecer. Ou pior, que eu o reconheça. Outro dia minha colega de trabalho passou mal só de ver o nome no documento de uma garota que, há alguns poucos anos atrás, a agrediu. Ela lembrava e aquilo a afetou. Eu estou afetada, ao ponto de que minhas costas doem todos os dias de tensão. Obviamente já arrumei um celular novo, dessa vez tive o cuidado de fazer um seguro contra roubo, assalto e furto.
Em que mundo eu vivo? Aquela mulher que era meu mundo era forte e, ainda assim, morreu. Eu não me acho tão forte quanto ela, por mais que digam q eu sou forte. Não duvido, mas não sinto. Me achava apenas uma pessoa um pouco diferente no meio dessa grande massa que habita o mundo.