sábado, 30 de junho de 2018

Enganada

Vamos falar sobre a Proguaru? Vamos!
Pra quem não sabe, a Proguaru é uma empresa de economia mista. O que isso significa? Que tem gente tanto do governo quanto do particular trabalhando nela. Isso é bom ou ruim? Bem, depende do ponto de vista de quem vê. Quando eu entrei no IBGE me lembro do que me disseram sobre o trabalho, “um trabalho de empresa pública que te cobra os prazos como uma empresa particular”. A Proguaru vai nesses moldes, uma empresa que trata de vários problemas e necessidades do município que tem uma política de empresa privada. Por política estou me referindo à situações básicas como condições de trabalho, pagamento, chefia e até mesmo sobre a atitude dos funcionários. O título desse post é para demonstrar como estou me sentindo em relação a essa empresa e, também, ao local onde fui designada.
Existem dois tipos de locais onde a maioria de nós, agentes de portaria, trabalham: educação e saúde. Eu, pelo bem ou pelo mal, estou na área da saúde. Você pensa que o adicional de insalubridade vai compensar a vida dura que você vai ter nesse lugar. Você começa a conhecer seus colegas de trabalho, que inicialmente seriam seus companheiros por apenas 3 dias de plantão. Você decide que é um lugar totalmente suportável, mesmo sendo longe da sua casa e você tendo que pegar um ônibus lotado pra ir pra lá. Você então recebe a notícia de que vai ficar por lá por mais um mês, pois vai cobrir as férias de uma das pessoas que estava com você durante esses três dias. Você pensa que isso é uma coisa boa. Mas esquece de alguns detalhes muito importantes. Você não conhece a pessoa que você estava inicialmente cobrindo férias. Você não conhece a pessoa que fazia horas extras no seu lugar e que, agora, está fazendo sua caveira pra todos que trabalham naquele lugar, nada me tira da cabeça que para poder me tirar de lá e voltar a fazer as horas extras. Você não sabe quem vai vir no lugar da outra pessoa que também está tirando férias. E todas as instruções que te foram dadas, que são muitas, diga-se de passagem, 
Parecem ser a chave que decide se você fica ou se sai. A verdade é que lá tem muitas pessoas legais, mas elas acabam abusando de suas posições e da gentileza que lhes é mostrada para lhe dar tarefas que não cabem na sua atribuição. Chamar os pacientes pelas fichas, por exemplo, é uma das funções que não é minha, mas que faço quando me pedem, pois estou em período de avaliação e tenho medo de que, se não fizer o que me pedem, isso acabará acarretando em uma queda no valor da minha avaliação. Ao mesmo tempo, a gerência tem o péssimo hábito que meu antigo chefe tem: reclamar de mim pelas costas. Tinha me decidido a fazer uma reclamação na ouvidoria mas, ao entrar no site, lá estava escrito, bem dessa forma, “procure as pessoas diretamente envolvidas com a resolução do seu problema ou questionamento que são os responsáveis pelos estabelecimentos”. Decidi então falar com a gerente do estabelecimento no meu próximo plantão de dia de semana. Só por precaução, pretendo também conversar com a senhora do fim de semana. Ela reclamou pra mim que a chamaram de dedo duro oficial na cara dura. O que eu penso é que, se as pessoas tem coragem de dizer isso pra ela, talvez eu consiga falar com ela e expor meus problemas na esperança de que eles cheguem aos ouvidos da gerente pra que, no dia de semana, quando eu for falar com ela, ela já esteja um pouco ciente do que eu preciso falar com ela. Afinal, acho injusto que eles estejam me cobrando perfeição quando eu mal comecei nesse emprego. Ninguém nunca ouviu falar em erros?
O que mais me magoa em tudo isso na verdade é a falta de interesse da empresa pra qual trabalho de resolver as situações, que acreditem, não são difíceis de se resolver. Ontem, quando voltei pra casa, meu vale transporte não recarregou, o que significa que tive que pagar do bolso. Ainda tenho que ver meu holerit, mas tenho certeza quase absoluta de que não me pagaram o proporcional de insalubridade que tenho direito. Por fim, quando lembro de segunda-feira, dia 25, tenho vontade de chorar. Você acha que vai trabalhar num hospital e que as coisas vão funcionar, nem que seja no tranco. O problema é que, nesse caso, o tranco não é o suficiente. Hoje estou desabafando. Enquanto uma parte de mim quer brigar pra continuar lá, pelo simples gosto de lutar contra as injustiças que estão sendo cometidas contra mim, a outra me diz para deixar tudo como está e que o melhor seria mesmo que eu saísse de lá. Qual caminho vai se abrir na minha frente, por enquanto, é um mistério.

sábado, 16 de junho de 2018

Fases

Há não muito tempo atrás eu estava num emprego em que trabalhava 8 horas por dia, 40 horas semanais, o que significava que eu tinha o sábado e o domingo livres. Era bom. Mas por motivos que já foram explicados, tive que deixar aquele emprego. O que não foi de todo ruim, pois me chamaram para dois empregos, um de pesquisas e outro de portaria. O de pesquisas não foi tão bem e, depois de várias decepções com as pessoas que supervisionavam a pesquisa além da paralisação dos caminhoneiros, que afetou todo mundo inclusive os ônibus, desisti de fazer pesquisas. Foco em ser porteira, pensei.
Bem, seria fácil não fosse o fato que trabalharei numa escala de 12/36. Isso se explica como trabalhar 12 horas em um dia e folgar o dia seguinte, para no outro dia ir trabalhar novamente, no mesmo período que você trabalhou, as mesmas 12 horas. Essa semana que passou ficamos praticamente todos os dias indo ter treinamento, ouvindo sobre a empresa, sentindo tédio pela bagunça generalizada que estava naquele lugar. Eles contrataram muita gente, foi o que eles disseram. Um rapaz na fila que se formou para entrar disse que essa contratação gigante se deu por conta das eleições. De uma forma ou de outra, essa contratação de gente demais culminou em muita gente indo trabalhar longe de casa. Culminou em gente que não tem posto fixo e em gente que nem posto tinha, logo tiveram que ir para a base e aguardar serem chamados. Isso porque pessoas faltam ao serviço ou se atrasam. De qualquer forma, ontem foi meu primeiro dia de trabalho e hoje, por definição, é meu dia de folga.
Eu vou contar pra vocês um pouco da minha experiência no primeiro dia. Uma das frases que pensei é que chegaria a meia noite mas não as sete da tarde. Eu levei uma marmita leve, só com arroz, pro caso do local pra onde fui mandada não ter onde esquentar a comida. Mas fui mandada pra uma policlínica. Vocês sabem o que é uma policlínica? Bem, é quase como um pronto socorro, mas com especialidades específicas. Lá, no caso, tinha o clínico e o pediatra. Também tiravam o raio X. Várias das pessoas que iam lá buscavam esses tipos de serviço. Outras ainda vinham buscar exames e também tinham as que vinham buscar remédios. Como era de esperar, apareceram também as pessoas que diziam ser emergências e que queriam atendimento preferencial. Estávamos sem sistema então não é como se fosse algo possível de ser feito. Sei que vou ficar lá até terça, pois foram os dias que me foram dados. O lugar é meio longe e meio ruim de se ir, quando pesquisei no google ele me mostrou apenas um ônibus pra ir pra lá e mesmo saindo de casa bem cedo, o ônibus demorou mais do que eu gostaria pra chegar. Estava frio e escuro e eu estava sozinha no ponto a maior parte do tempo. O ônibus veio cheio de gente, mesmo sendo apenas 6 da manhã. Lá, no entanto, tive a oportunidade de observar os ônibus passando na rua e tive a chance de notar alguns outros ônibus que eu poderia pegar, caso aquele ônibus não passe. São ônibus novos, então eu não sabia que ele passava ali. Na real, eu nem sei qual o itinerário dele, mas provavelmente, se ele passar antes do que eu estava esperando, vou testar. Mesmo que isso me custe alguns minutos de atraso. Não acredito que um será pior que o outro, muito pelo contrário, já que o outro passou antes do que eu peguei e, além disso, bem mais vazio.
Quando cheguei lá eu confesso que não sabia onde ir nem a quem me apresentar. Entrei pela emergência e fui recebida pela Joana, que me informou que ela está para sair de férias. Ela e o Valdir, que também é porteiro. Lá trabalham em quatro pessoas. Ela estava super feliz, pensando que eu vou substituir ela em suas férias. Eu, por outro lado, tenho plena noção de que estou apenas cobrindo as férias da quarta pessoa. O lugar é longe. O ônibus que eu sabia que vai pra lá estava cheio, mesmo de manhã. Ficar tendo que revezar o lugar que se fica significa que você vai passar uma boa parte do dia de pé. Os médicos não vão se importar que você é apenas um agente de portaria e vão te pedir pra chamar os pacientes. Você pode ou não dizer que essa não é sua função, mas esteja ciente de que você estará se indispondo com o doutor no seu primeiro dia de trabalho, no meu caso específico. Sua garganta vai começar a fechar, pois está frio. Muito frio. A recepção é o melhor lugar pra se trabalhar em questão de fugir do tédio mas, por outro lado, é o posto mais frio dos quatro. E confesso que não fui preparada pra tanto frio. Se tivesse levado um cachecol talvez não tivesse passado tanto frio. Meu celular morreu depois da carga horária ter terminado mas antes de eu ter chegado em casa. Avisei meu amor que cheguei e me deitei. “Só um cochilo”, pensei. Meu pai até chegou a vir ver se eu queria jantar, mas percebeu que eu estava cansada e me deixou lá. Eu me enrolei em minhas cobertas como se elas fossem um casulo. E apaguei. Acordei hoje às quase 5 da manhã. Quase cinco pois ainda eram quatro. Olhei no whatsapp e percebi que meu amor até tentou me acordar, mas foi inútil, eu realmente não acordei. Pensei que nesse momento é quando mais sinto falta da minha mãe, pois não posso pedir nem pro meu pai nem pro meu irmão me ajudarem a colocar um emplasto de salompas nas costas. Ou que seria bom morar com meu amor, pois ele poderia fazer isso por mim. Pensei que seria legal trabalhar lá, já que as pessoas foram bem receptivas comigo. Pensei também que será horrível se tiver que trabalhar sempre lá, já que é, sem dúvidas, um lugar longe. Mas não me importaria de cobrir as férias da Joana ou do Valdir. Queria ter um posto fixo perto de casa, mas não é o que vou ter. Já estou começando a me acostumar com a ideia de trabalhar em lugares da saúde, mesmo que meu sonho de consumo fossem escolas. Posso pensar em fazer permutas com pessoas que trabalham em escolas mais pra frente, quando estiver mais acostumada com o trabalho, mas agora, com certeza, é sem chances que eu tente. Meu primeiro dia me deixou moída. Vamos ver até semana que vem como vai ser minha vida. E boa sorte pra mim em minha nova jornada.

sábado, 2 de junho de 2018

Verdade

Há muito tempo atrás eu participei de palestras de um grupo chamado Gnosis. Eles falavam, entre outras coisas, sobre religiosidade. Coincidentemente naquela época eu comecei a ter contato com o espiritismo através da minha amiga Lucimar. Os ensinamentos da Gnosis, se é que posso chamá-los dessa forma, eram muito parecidos com os do espiritismo em vários níveis, no entanto, eram diferentes. O espiritismo diz que nós podemos sim estagiar em animais. A Gnosis dizia que nós temos que passar por essa fase e, inclusive, fases antes dessa, para podermos ter o que chamamos de evolução, e que essa se dá através de dor e sofrimento. Então, após passar por todas as palestras preparatórias, que confesso, eram muito boas de se assistir, você é convidado para participar da segunda câmara. Não é algo obrigatório, veja bem, e você pode sempre assistir as palestras, quantas vezes quiser. No entanto a chance de poder entrar na segunda câmara só é lhe dado duas vezes. Essa informação eu tenho pois, na época que minha mãe morreu, enquanto eu fui procurar uma psicóloga, meu irmão procurou a religiosidade, e lá teve essa informação. Não vou entrar em detalhes da cerimônia de iniciação nem nada assim, mas vou, finalmente, chegar no ponto que o post converge para o título. Todas as perguntas que me foram feitas eu respondi com a verdade.. Não que me perguntassem, por exemplo, minha idade e eu respondesse com o número 32. Não. A verdade. Era o que eu procurava.
Meu irmão não gostava de ler quando era mais novo, no entanto, conforme o tempo passou, eu, que amava ler, parti para os lados das leituras de ficção e histórias. Já meu irmão, que nunca teve um gosto muito grande por esse tipo de leitura, começou a ler livros de um ramo mais estudioso. Filosofia, economia, religião. Dentre esses livros, um em especial sempre chamou minha atenção mas eu nunca consegui ler por completo. Quase não precisava, pois meu irmão tem o costume de citar os livros que lê, ou descrever trechos. Tantas vezes ele me falou do que leu no livro que eu quase sentia como se tivesse lido o livro em si. Um dia ele me emprestou os exilados da Capela, o livro em questão. Mal comecei a ler e minha colega de trabalho ficou super interessada. Emprestei o livro pra ela. Bem, o contrato dela terminou, eu tive que pedir pra sair do IBGE e, só com isso, ela me mandou uma mensagem, dizendo que tinha deixado o livro com a Nadir. Mas eu não ia lá só pra buscar um livro, certo?
Bem, quando eu deixei meu emprego eu lembro de ter me sentido bastante mal por vários motivos. Existem, sim, coisas que eu precisava buscar, mas não me sinto compelida a ir lá só por isso. Essa semana, no entanto, a Lara, uma das minhas amigas de lá que já conseguiu um emprego público melhor, nos convidou pra almoçar. Obviamente que todas aceitaram e, quando nos vimos, a Nadir me trouxe o livro. Aqui está ele, em minhas mãos. E mal comecei a ler  novamente e percebi que ele toca nessa questão. A verdade. A busca por ela. Querer a verdade. O livro esclarece que ele não tem base em nenhum estudo científico mas, se formos olhar pelo prisma da ciência, a religião é em sua maioria refutada. Eu gosto de pensar na ciência e na religiosidade como algo da mesma liga, da mesma forma, mas eu não uma cientista, nem conheço nenhum para poder doutriná-lo nessa vertente. Só posso ter minhas próprias convicções. Falei pro meu irmão sobre como o livro já começava falando da verdade e, quando ele foi tentar me corrigir, tive que explicar que não era que o assunto do livro fosse a verdade mas que as palavras usadas eram a verdade.
A verdade que eu buscava era para entender o porquê de eu ter sonhos premonitórios. Era para entender porquê eu tinha aquelas sensações de solidão que, de tão fortes, me faziam chorar. A verdade que eu procurava não era a verdade universal, mas a minha verdade. Quem me deu a resposta mais próxima do que eu buscava foi, novamente, a Lucimar. Ela perguntou se eu não achava que devia trabalhar minha espiritualidade, minha religiosidade, minha fé. Minha fé existe, sim, não achem que não. Mas existe uma diferença berrante na minha fé, que considero uma fé bruta, e na fé de pessoas como a Lucimar e a Liliane. Existem pessoas que definitivamente se dedicam a essa religiosidade e recebem sim as graças que necessitam. Minha fé não é ambiciosa. Estava contando para meu irmão um dia dessa semana o motivo real de eu ter pedido as contas do trabalho. Ele não sabia ainda. E contei também de como quase fui atropelada. E nesse momento, enquanto contava, lembrei de minha mãe. O anjo da guarda dela não descansava nunca. O meu é igual. Minha verdade ainda está escondida e, talvez, se eu de fato me dedicasse a alguma religião, eu visse os efeitos de forma mais nítida. Nunca pedi que Deus se materializasse na minha frente mas também nunca duvidei da força maior que eu que existe nesse mundo. Essa força maior que tirou meu corpo da frente do ônibus que eu não vi antes que ele passasse por cima de mim. E eu aqui, falando que queria morrer. Agora que penso, me sinto até envergonhada por dizer essas coisas. Perdão. Sou humana e não sei o que digo às vezes. O fato é que a verdade está lá fora e, em algum momento da minha vida, se quiser de fato encontrá-la, vou ter que correr atrás. Um dia. Não hoje.