sábado, 16 de junho de 2018

Fases

Há não muito tempo atrás eu estava num emprego em que trabalhava 8 horas por dia, 40 horas semanais, o que significava que eu tinha o sábado e o domingo livres. Era bom. Mas por motivos que já foram explicados, tive que deixar aquele emprego. O que não foi de todo ruim, pois me chamaram para dois empregos, um de pesquisas e outro de portaria. O de pesquisas não foi tão bem e, depois de várias decepções com as pessoas que supervisionavam a pesquisa além da paralisação dos caminhoneiros, que afetou todo mundo inclusive os ônibus, desisti de fazer pesquisas. Foco em ser porteira, pensei.
Bem, seria fácil não fosse o fato que trabalharei numa escala de 12/36. Isso se explica como trabalhar 12 horas em um dia e folgar o dia seguinte, para no outro dia ir trabalhar novamente, no mesmo período que você trabalhou, as mesmas 12 horas. Essa semana que passou ficamos praticamente todos os dias indo ter treinamento, ouvindo sobre a empresa, sentindo tédio pela bagunça generalizada que estava naquele lugar. Eles contrataram muita gente, foi o que eles disseram. Um rapaz na fila que se formou para entrar disse que essa contratação gigante se deu por conta das eleições. De uma forma ou de outra, essa contratação de gente demais culminou em muita gente indo trabalhar longe de casa. Culminou em gente que não tem posto fixo e em gente que nem posto tinha, logo tiveram que ir para a base e aguardar serem chamados. Isso porque pessoas faltam ao serviço ou se atrasam. De qualquer forma, ontem foi meu primeiro dia de trabalho e hoje, por definição, é meu dia de folga.
Eu vou contar pra vocês um pouco da minha experiência no primeiro dia. Uma das frases que pensei é que chegaria a meia noite mas não as sete da tarde. Eu levei uma marmita leve, só com arroz, pro caso do local pra onde fui mandada não ter onde esquentar a comida. Mas fui mandada pra uma policlínica. Vocês sabem o que é uma policlínica? Bem, é quase como um pronto socorro, mas com especialidades específicas. Lá, no caso, tinha o clínico e o pediatra. Também tiravam o raio X. Várias das pessoas que iam lá buscavam esses tipos de serviço. Outras ainda vinham buscar exames e também tinham as que vinham buscar remédios. Como era de esperar, apareceram também as pessoas que diziam ser emergências e que queriam atendimento preferencial. Estávamos sem sistema então não é como se fosse algo possível de ser feito. Sei que vou ficar lá até terça, pois foram os dias que me foram dados. O lugar é meio longe e meio ruim de se ir, quando pesquisei no google ele me mostrou apenas um ônibus pra ir pra lá e mesmo saindo de casa bem cedo, o ônibus demorou mais do que eu gostaria pra chegar. Estava frio e escuro e eu estava sozinha no ponto a maior parte do tempo. O ônibus veio cheio de gente, mesmo sendo apenas 6 da manhã. Lá, no entanto, tive a oportunidade de observar os ônibus passando na rua e tive a chance de notar alguns outros ônibus que eu poderia pegar, caso aquele ônibus não passe. São ônibus novos, então eu não sabia que ele passava ali. Na real, eu nem sei qual o itinerário dele, mas provavelmente, se ele passar antes do que eu estava esperando, vou testar. Mesmo que isso me custe alguns minutos de atraso. Não acredito que um será pior que o outro, muito pelo contrário, já que o outro passou antes do que eu peguei e, além disso, bem mais vazio.
Quando cheguei lá eu confesso que não sabia onde ir nem a quem me apresentar. Entrei pela emergência e fui recebida pela Joana, que me informou que ela está para sair de férias. Ela e o Valdir, que também é porteiro. Lá trabalham em quatro pessoas. Ela estava super feliz, pensando que eu vou substituir ela em suas férias. Eu, por outro lado, tenho plena noção de que estou apenas cobrindo as férias da quarta pessoa. O lugar é longe. O ônibus que eu sabia que vai pra lá estava cheio, mesmo de manhã. Ficar tendo que revezar o lugar que se fica significa que você vai passar uma boa parte do dia de pé. Os médicos não vão se importar que você é apenas um agente de portaria e vão te pedir pra chamar os pacientes. Você pode ou não dizer que essa não é sua função, mas esteja ciente de que você estará se indispondo com o doutor no seu primeiro dia de trabalho, no meu caso específico. Sua garganta vai começar a fechar, pois está frio. Muito frio. A recepção é o melhor lugar pra se trabalhar em questão de fugir do tédio mas, por outro lado, é o posto mais frio dos quatro. E confesso que não fui preparada pra tanto frio. Se tivesse levado um cachecol talvez não tivesse passado tanto frio. Meu celular morreu depois da carga horária ter terminado mas antes de eu ter chegado em casa. Avisei meu amor que cheguei e me deitei. “Só um cochilo”, pensei. Meu pai até chegou a vir ver se eu queria jantar, mas percebeu que eu estava cansada e me deixou lá. Eu me enrolei em minhas cobertas como se elas fossem um casulo. E apaguei. Acordei hoje às quase 5 da manhã. Quase cinco pois ainda eram quatro. Olhei no whatsapp e percebi que meu amor até tentou me acordar, mas foi inútil, eu realmente não acordei. Pensei que nesse momento é quando mais sinto falta da minha mãe, pois não posso pedir nem pro meu pai nem pro meu irmão me ajudarem a colocar um emplasto de salompas nas costas. Ou que seria bom morar com meu amor, pois ele poderia fazer isso por mim. Pensei que seria legal trabalhar lá, já que as pessoas foram bem receptivas comigo. Pensei também que será horrível se tiver que trabalhar sempre lá, já que é, sem dúvidas, um lugar longe. Mas não me importaria de cobrir as férias da Joana ou do Valdir. Queria ter um posto fixo perto de casa, mas não é o que vou ter. Já estou começando a me acostumar com a ideia de trabalhar em lugares da saúde, mesmo que meu sonho de consumo fossem escolas. Posso pensar em fazer permutas com pessoas que trabalham em escolas mais pra frente, quando estiver mais acostumada com o trabalho, mas agora, com certeza, é sem chances que eu tente. Meu primeiro dia me deixou moída. Vamos ver até semana que vem como vai ser minha vida. E boa sorte pra mim em minha nova jornada.

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