quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Capítulo 5 - Despedidas e Reencontros

Esse é o último capítulo dessa Fanfic. No final das contas vários dos sentimentos que eu queria passar não foram passados, no entanto estou feliz com o resultado. Espero que tenham gostado do que leram até agora.

Capítulo 5 - Despedidas e Reencontros

"Lembre-se que você não deve se apaixonar novamente. Isso quebraria o encanto que lancei sobre você e a dor seria inevitável."
Essas foram as palavras da bruxa. E Alisa as guardou fortemente em sua mente e em seu coração. Foi com grande alivio que ela não o viu no porto para se despedir dela e do padre Nathan quando os dois partiam para o lugar onde haviam sido relocados. A bruxa também não estava lá mas ela podia entender o porque, ela nunca daria o braço a torcer de que sentiria saudades.
"Mas eu provavelmente sentirei falta dela," foi o que Alisa pensou. De todas as pessoas que havia conhecido nas ilhas, a bruxa havia sido, sem dúvida, sua melhor amiga. Era cruel, é verdade, mas não significava que não se importasse com nada, e Alisa entendeu isso quando ela aceitou seu último pedido.

Bluebell era um pequeno vilarejo focado na criação de animais de todos os tipos. Não era difícil encontrar vacas pastando, ovelhas sendo tosadas e cavalos correndo dentro de fazendas. Nathan e Alisa descobriram que a igreja onde ficariam era maior que a antiga igreja onde viviam nas ilhas, no entanto era bem menos decorada. Alisa teve que se segurar para não rir quando ouviu o padre Nathan reclamar de não ter pensado em trazer a estatua da deusa das ilhas para aquele vilarejo.
"Esta tudo bem, não esta?" Ela retrucou. "Tenho certeza que aquela estatua sempre fará com que as pessoas da ilha se lembrem de que estivemos por lá," ela disse com um sorriso.

Alisa descobriu que em Bluebell as pessoas não eram muito religiosas. Descobriu que costumava haver um túnel que ligava aquele vilarejo ao vilarejo vizinho e que, segundo lhe contaram, a própria Deusa havia bloqueado a passagem do túnel já que as duas vilas viviam em desacordo. Só não entendia em desacordo sobre o que. Mas não demorou muito até que descobrisse. Não muitos dias depois que se mudaram ficaram sabendo da existência de um torneio culinário que acontecia praticamente todo mês e que a rivalidade entre as duas vilas era ferrenho.
"Isso explica bastante coisa," ela comentou com Nathan enquanto tomavam o café da manhã naquele dia. "E o que será que fazem com a comida que sobra?" Ela perguntou.
"Não sei. Eu até gostaria de ir e descobrir mas tenho que falar com o prefeito para resolver algumas coisas à respeito de nossa estadia. Mas por que você não aproveita a oportunidade e vai assistir à competição? Tenho certeza que se bem não fará, mal também não há de fazer."
Alisa concordou e se preparou para a escalada da montanha que separava as duas vilas para assistir à competição.

Alisa ficou surpresa de ver que o prefeito aguardava ansiosamente as pessoas que estavam vindo para a competição e pensou em como o padre Nathan iria se desapontar. Se juntou ao pequeno grupo de pessoas de Bluebell que haviam se reunido e começou a observar os competidores. Haviam duas mesas, cada uma com três pratos em exposição. Atrás de cada prato havia uma pessoa que Alisa assumiu serem os responsáveis pelo preparo do prato. Seus olhos pararam por um momento em um dos pratos que não tinha seu representante o vigiando, por assim dizer, e ficou curiosa. Não demorou muito para anunciarem que o concurso estava prestes a começar e Alisa se surpreendeu ao notar que o responsável pelo prato, que pertencia à outra vila, estava conversando com um casal que morava em Bluebell. Mas não se prendeu muito ao fato e assistiu o decorrer do concurso e a vitória da equipe de Bluebell. Houve um pouco de animosidade entre os dois prefeitos mas não lhe parecia algo tão ruim como haviam lhe feito entender. E aproveitou a oportunidade para perguntar o que seria feito com o que restava da comida para um dos participantes.
"Normalmente nós mesmos levamos de volta para casa," um homem alto lhe disse. "Mas se quiser levar, fique à vontade. Sou o dono do café em Bluebell, leve como cortesia e, se gostar, sinta-se à vontade para nos visitar e comer alguma coisa," o homem disse, exultante.
Alisa não se fez de rogada e agradeceu, tomando o prato e o levando de volta para a igreja.

Não demorou muito tempo até que as pessoas começassem a aparecer. Não que a igreja fosse muito frequentada, mas Alisa não se sentia incomodada com isso. Até o dia que o garoto que lhe chamou a atenção do vilarejo vizinho apareceu.
"Parece que finalmente este lugar esta habitado?" Ele disse, com um sorriso. "Ola, meu nome é Philip. E você, quem é?"
"Meu nome é Alisa," ela se apresentou formalmente.
Ele não era de aparecer muito na igreja mas, quando aparecia, sempre trazia algum tipo de comida.
"Howard é uma pessoa ocupada então não pode vir sempre. Mas eu trabalho na fazenda, tomando conta da minha plantação. Não é um trabalho muito difícil nem que toma todo o meu tempo. Ele pediu para que eu ficasse de olho em vocês para que não falte nada."
Era verão e Alisa não conseguiu não se sentir encantada com o rapaz quando ele trouxe sua comida preferida, sorvete de creme.
"É meu favorito," ela sussurrou.
"É mesmo?" Ele perguntou, surpreso. "Então vou te trazer um pouco todo dia. Nesse calor, não tem nada melhor que uma bola de sorvete de creme!' Ele complementou.
"Concordo plenamente," ela disse, sorrindo.

E Alisa se pegou comparando os dois. Philip e Mark. Alisa nunca havia visto nenhum dos dois trabalhando, mas assumia que os dois eram trabalhadores. Mark, no entanto, não podia ver um rabo de saia sem que seu lado don Juan de Marco aparecesse. No entanto, todas as garotas de Bluebell só tinham boas coisas para dizer de Philip.
"Meu irmão é uma pessoa muito séria," Lilian havia lhe dito. "Vocês dois são bem parecidos nesse ponto."
"Você me acha uma pessoa séria?" Alisa perguntou, surpresa. Ela se considerava muitas coisas, mas definitivamente não uma pessoa séria.
"Sim, acho. Você tem uma expressão difícil de ler, como a do meu irmão. Acredito que você tenha passado por muitas dificuldades. Posso dizer com certeza que ele passou. Por isso acho vocês dois parecidos."
Ouvir essas palavras fez com que Alisa ficasse curiosa sobre que tipo de sofrimento Philip havia passado. Seria dor de amor como a dela? Resolveu que perguntaria quando o visse novamente.

"Dor de amor?" Ele perguntou, coçando a cabeça. "Não, não sei se poderia dizer que ja sofri por amor, não. É que venho de uma família muito complicada, entende? Saí de casa quando ainda era um garoto e tenho vivido sozinho desde então. Creio que era esse o sofrimento a que Lilian se referiu," disse ele, comendo uma colherada do sorvete que havia trazido para comer com Alisa. "Mas ela tem razão quando diz que somos parecidos," ele completou. "Você realmente parece ter sofrido bastante na vida."
Alisa olhou longamente para seu sorvete, deixando que as palavras de Philip afundassem em sua mente, em sua alma e em seu coração. E sem perceber, seu coração doeu. De uma forma que ela nunca havia sentido antes. E as palavras da bruxa reverberaram em sua mente.

"Você não deve se apaixonar novamente. A dor seria inevitável."

"Alisa!"
Quando Alisa se deu por si, lágrimas rolavam pelo seu rosto e Philip segurava seus ombros com força, preocupação estampada em seu rosto.
"Desculpe," ela disse, enxugando as lágrimas com as costas de sua mão. "Acho que me distraí um pouco."
"Se distraiu...?" Ele perguntou, incrédulo.
E Alisa agradeceu que ele não fez nenhuma pergunta. Ele só ficou ali, ao lado dela, segurando sua mão e esfregando suas costas, como um adulto tentando acalmar uma criança depois que essa acorda de um pesadelo.
"Pensei que conseguiria manter o feitiço por mais tempo," pensou Alisa.

Naquela noite Alisa saiu e rumou ao topo da montanha. De todas as vezes que havia ido assistir os concursos culinários ela não pode deixar de perceber que havia uma fonte de água cristalina muito parecida com a que havia perto da igreja nas ilhas. E ela se sentia estranhamente calma quando olhava para aquelas águas. Aquela noite, no entanto, sua intenção era a de chorar. Chorar todas as lágrimas que precisava chorar. As de amores passados, de amores futuros e de seu amor presente.
"Me apaixonar por ele é um erro," ela sussurrou.
"Por que seria um erro?" Ela ouviu uma voz brincalhona.
Olhou para os lados mas não viu ninguém.
"Quem está aí?" Ela perguntou, assustada.
"Você sabe quem sou eu. Olhe para a água," disse a voz.
Alisa obedeceu e, quando olhou, viu a imagem de uma mulher com cabelos verdes, vestida em roupas que pareciam ser de seda que esvoaçavam ao vento. Só que não havia vento.
"Deusa da Colheita?" Ela perguntou, hesitante.
"Sim, sou eu mesma."
"Por que consigo te ver?" Ela perguntou, confusa.
"Por que não é a pergunta correta aqui," a Deusa começou. "Mas sim por que você tem tantas dúvidas."
"Não entendo," Alisa começou, mas a Deusa a interrompeu antes que pudesse dizer qualquer coisa.
"Todas as pessoas nasceram para amar. Por mais que você fuja, esse sentimento vai te perseguir para o resto da vida. cabe a você saber aproveitar o melhor do que o amor te traz. No entanto, você se prende às coisas ruins. Tente ver o lado positivo das coisas e você vai conseguir, um dia, amar de verdade. Seu coração dói hoje pois você não consegue perdoar as pessoas que já amou, nem se perdoar por tê-las amado. Permita-se amar e verá que será mais feliz."
"Me permitir amar?" Alisa repetiu, sem entender o que ela realmente queria dizer.
"Um dia você entenderá. Agora vá. Não consigo dormir com você choramingando."
"Me desculpe," ela disse. "E obrigada."

Alisa voltou à fonte no dia seguinte na esperança de ver a Deusa. E no outro. E no outro. Mas a Deusa não apareceu para ela novamente. E ela começou a pensar se havia sido um sonho. Era outono quando recebeu uma carta que há muito esperava. Uma carta do convento em que ela havia feito os votos. Havia uma foto do seu jardim e ela ficou encantada com como as flores estavam mesmo sendo bem cuidadas. E junto havia uma pequena nota da Madre.
"Todos sentimos sua falta. Esperamos que esteja bem. Que a Deusa derrame suas bençãos sobre você."
Aquela carta trouxe à Alisa uma nova resolução. Agora ela sabia o que tinha que fazer. E Philip foi o primeiro a ser informado de sua decisão.
"Voltar ao convento?" Ele perguntou.
"Sim," ela disse, encarando-o nos olhos. Ele não desviava o olhar.
"Entendo," ele disse, pegando as mãos dela e as segurando entre as suas. "Posso pedir um favor então?"
Alisa hesitou, mas balançou a cabeça em afirmação, e ele pousou as mãos dela sobre seu peito, de forma que ela sentisse as batidas de seu coração.
"Mas," ela tentou protestar, mas ele a interrompeu.
"Pense nisso como um favor. E não pense que estará me incomodando, sou eu que estou pedindo afinal."
Mais uma vez, Alisa concordou. Afinal, que mal poderia haver?

No entanto as coisas sempre parecem mais fáceis quando estão dentro de nossa mente. E quando chegou o momento de subir na embarcação Alisa não resistiu e começou a chorar. Philip a abraçou e ela tentou empurrá-lo.
"Você vai acabar com sua camisa encharcada," ela protestou.
"Pare de relutar," ele sussurrou. "Deixe que elas saiam e não se importe comigo."
Pela primeira vez Alisa se permitiu chorar nos braços de alguém. E realmente deixou de se importar se iria molhar a camisa dele ou não. Chorou e soluçou e se agarrou aos seus braços. Imaginou que ele fosse o professor e o garoto comprometido por quem se apaixonara na adolescência e que nunca poderiam entender nem aceitar seus sentimentos. Imaginou que ele fosse Mark e fez um pedido para que o garoto não tivesse que sofrer tanto como ela sofreu para algum dia conseguir entender como ela se sentia. E finalmente, levantando os olhos, olhou para Philip. o Homem que lhe abraçava naquele momento. A pessoa que ela não sabia se amava, se admirava, se respeitava. E sorriu.
"Você fica muito mais bonita quando sorri," ele disse, retornando o sorriso.
"Você também," disse ela.
E quando subiu na embarcação olhou uma ultima vez para tras. Para o que estava deixando naquela terra. E não se arrependeu. Dias melhores viriam, ela tinha certeza. E estava decidida a construir seu futuro de forma que, algum dia, pudesse olhar para o passado e pensar nele com carinho e não com rancor. De forma que, quando lembrasse, as memórias fossem apenas isso: memórias.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Capítulo 4 - Feridas que não Cicatrizam

Capítulo 4 - Feridas que não Cicatrizam

A vida nas ilhas era tranquila e pacata. Com o passar do tempo mais pessoas vinham visitar a igreja e Alisa não se sentia tão só. Até os garotos que frequentavam a igreja eram gentis e isso fazia com que Alisa lentamente se sentisse curada de seus traumas amorosos, apesar de não conversar muito com eles. Havia um no entanto que conseguia fazer com que ela se abrisse facilmente.
"Alisa, você é muito bonita pra ser uma freira." ele dizia, fazendo com que ela se sentisse encabulada.
Mark passou a visitá-la diariamente e trazer presentes como flores e produtos que, segundo ele, ele produzia em sua própria fazenda.
"Você tem que me dizer o que é que você mais gosta de comer Alisa," ele pedia. "Não sou o melhor dos cozinheiros mas se me disser, eu posso preparar pra você."
Alisa apenas sorria, sentindo seu coração acelerar um pouco.

"Mark?" A garota loira falou, dando uma risada maliciosa. "Eu o conheço bem. Aqui, olhe," ela disse, totalmente radiante, mostrando para Alisa um prato de curry arco-íris. "Ele me perguntou qual era minha comida favorita. Eu disse que gostava de curry mas não fui muito específica. Toda semana ele me trazia um curry diferente. Essa semana ele finalmente trouxe o meu favorito," ela disse, pegando uma colherada farta e sorrindo ao degustá-la. "Quer um pouco?"
"Não, obrigada," Alisa recusou, educadamente.
A verdade é que Alisa não gostava de curry. E não gostava de saber que Mark estava sendo atencioso com outras pessoas além dela. E decidiu que diria a ele que sua comida favorita era sorvete para ver se o garoto faria o mesmo que fez com a bruxa.
Passou-se uma semana, no entanto, e nada de Mark aparecer. Alisa começou a se sentir impaciente até o dia que Chelsea lhe visitou e lhe contou as novidades.
"Mark parece estar querendo se casar. Tenho visto ele falar com uma porção de garotas e lhes perguntar do que elas mais gostam. Elas também parecem estar ficando bem interessadas nele. Eu sei de pelo menos uma pessoa que ficaria pensativa caso ele a pedisse em casamento."
"Casamento...?" Alisa perguntou, espantada e assustada.
"Sim. Elas moram nas ilhas há bem mais tempo que você, sabe? E também são mais próximas a ele do que você. E não são freiras como você. Acho que isso conta pontos positivos para elas, não?"
Alisa sentiu o chão abrir sob seus pés. E pensou em Mark e em como ele era atencioso com ela.
"Ele não tentaria fazer com que eu me apaixonasse por ele para me fazer sofrer, faria?"

Alisa resolveu ignorar o que Chelsea havia lhe contado até o dia que Julia, a filha da dona da loja de animais, veio visitar a igreja e Mark apareceu no mesmo horário. E observou com dor no coração como o garoto a ignorou por completo para ir falar com a outra garota, inclusive lhe dando um pote de iogurte de presente. Pela reação da outra garota Alisa percebeu que não era um presente qualquer. Pelo menos não para a garota. E foi só quando ele estava de saída que ele acenou para Alisa. Julia o chamou e, após se despedir de Alisa, o seguiu alegremente.
"Provavelmente os dois vão voltar juntos para a outra ilha," ela pensou. E seu coração deu uma pontada.

O inverno chegou e Alisa passou a usar um vestido de lã ao invés de suas habituais roupas de seda e algodão. Foi em um dia de neve que Mark apareceu na igreja que os dois finalmente tiveram uma conversa sobre tudo que estava incomodando Alisa. Ela falou para ele sobre o que Chelsea havia lhe contado sobre as outras garotas, sobre como estava incomodada com o fato de ter sido ignorada no dia que Julia estava na igreja, sobre como sua vida amorosa havia sido até ali e os motivos que lhe fizeram se tornar uma freira.
"E eu acho que estou me apaixonando por você", ela disse no final, olhando para o chão, sem ter coragem de olhá-lo nos olhos.
"Sabe Alisa," ele disse, se esticando no banco e colocando as mãos atras da nuca. "Eu consigo ver a Deusa da Colheita."
Alisa teve vontade de perguntar o que isso tinha a ver com tudo que ela havia lhe contado mas continuou calada. E ele continuou falando.
"Ela não é uma pessoa tão incrível como vc acredita que ela é. Na verdade, ela poderia se passar por uma pessoa normal se... bem, se não morasse numa fonte de água."
"Por que esta me dizendo isso?" Ela perguntou finalmente, sem entender.
"Acho que você escolheu o caminho que queria trilhar. Foi sua escolha se tornar uma freira. E uma freira que serve à Deusa da Colheita, veja bem. Se escolheu esse caminho deve trilhá-lo até o fim. Eu não sou o tipo de homem que você acha que eu sou," ele disse, virando o rosto e olhando para ela.
Por um segundo Alisa sentiu seu coração apertar e seus olhos marejarem, então baixou a cabeça e escondeu o rosto com as mãos, como se isso bastasse para que ele não a visse chorando. Ela esperou secretamente que ele lhe consolasse. que lhe confortasse. Que lhe abraçasse e lhe dissesse que estava tudo bem. Mas ele não fez nada disso.
"Não chore. Me incomoda profundamente ver uma garota chorando."

Aquela tarde, depois que Mark havia partido, o padre Nathan chegou com novidade.
"Parece que vamos nos mudar, Alisa.
"Mudar?" Ela perguntou, tentando esconder sua surpresa.
"Seus olhos estão inchados," o padre percebeu, se aproximando da garota para examiná-la. "Você esta bem?" Ele perguntou, consternado.
"Sim, estou," ela mentiu. "Como assim, mudar?" Ela perguntou.
"Parece que nosso trabalho aqui foi dado como concluído, Vão mandar outro sacerdote para cuidar da igreja. E nós estamos sendo realocados.
Alisa esperou que o padre tivesse terminado todas suas tarefas e correu para visitar a bruxa. Assim como o padre a garota percebeu os olhos inchados de Alisa mas, diferentemente do padre, ela não deixou passar.
"Normalmente ver olhos inchados me dá um prazer imenso mas," ela parou da falar por um instante, como se procurasse as palavras certas. "Em você me da nos nervos. O que aconteceu?"
Alisa se permitiu chorar novamente enquanto contava à bruxa tudo que havia acontecido até então.
"É um pouco de culpa sua também, sabe?" Ela disse, com um pequeno sorriso nos lábios. "Mark é esse tipo de pessoa, que é bom com todo mundo, tenta agradar todo mundo e, no fim das contas, quando alguém se apaixona por ele, ele as culpa por terem entendido mal."
Ao ouvir a bruxa falando Alisa se pegou pensando se a própria bruxa havia sido alguém que também se sentiu enganada por Mark. Mas não quis entrar no assunto.
"Eu acho que realmente deveria tomar seu curação, sabe?" A bruxa falou, num tom de piada.
No entanto, Alisa viu ali a solução para boa parte de seus problemas.
"Você poderia?"
O sorriso no rosto da bruxa sumiu instantaneamente após a pergunta e sua feição mudou para uma careta.
"Você sabe que eu não poderia fazer nada disso," ela respondeu com uma cara amarga, como se estivesse perdendo algo. "Mas posso te ajudar a não sofrer mais. Eu adoraria ver sua cara de sofredora, mas vou quebrar seu galho," ela disse com um sorriso que, para Alisa, parecia triste. Era a primeira vez que ela via aquele tipo de feição no rosto da bruxa. "Você quer? Se aceitar, não tem mais volta."
"Quero," respondeu Alisa, decidida. "Nada pode ser pior do que o que estou sentindo agora.

"Ok," a bruxa consentiu. E enquanto murmurava palavras indefiníveis, Alisa sentiu seus olhos pesarem até que perdeu a consciência.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Capítulo 3 - Amizades Inusitadas

Capítulo 3 - Amizades Inusitadas

O primeiro passo antes de se mudar foi conhecer o Padre Nathan. Ele era um homem de meia idade que gostava de coisas simples. Isso fazia com que a convivência entre eles fosse boa.
"Essa é a garota de que lhe falei padre," a madre a apresentou ao sacerdote.
"Ora, ora. Muito prazer. Seu nome é Alisa, não é? A madre me contou um pouco sobre você. Espero que possamos nos dar bem," ele disse com um sorriso de orelha a orelha.
Na época Alisa ainda estava relutante de deixar o convento, ainda mais para voltar a conviver com um homem. No entanto o padre não representava nenhum risco, o que lhe ajudou a relaxar bastante em sua presença. No principio eles viajavam de cidade em cidade, de povoado em povoado, pregando a palavra da Deusa. Até que um dia um mensageiro veio ao seu encontro.
"Tenho noticias importantes," ele anunciou, entregando um envelope ao padre.
"Muito obrigado meu rapaz. Que a Deusa lhe abençoe," ele abençoou o rapaz antes que ele se fosse.
Alisa observou enquanto o padre abria a carta e a lia, pausadamente, às vezes passando a mão por sua cabeleira loura. Quando ele terminou de ler Alisa se questionou se devia perguntar algo. Não foi preciso.
"Tenho boas e más noticias, Alisa."
"O que dizia a carta, padre?"
"Parece que teremos que nos estabelecer em uma ilha por um tempo. Não sei por quanto tempo, mas devemos partir hoje mesmo."
"E essas são as boas ou as más notícias?" Ela perguntou, curiosa.
"Ambas."

Alisa não sabia, mas o padre Nathan era um homem que preferia viver livremente, pregando onde seu coração lhe guiava. Ter que se acomodar em uma ilha não lhe parecia uma ideia tão boa, no entanto eram ordens superiores direcionadas especificamente para ele. Não havia como recusar. E ele sabia um pouco sobre os traumas de Alisa. A madre havia lhe contado como a garota era arisca perto de homens, mesmo que estes homens fossem homens que serviam a Deusa. Ele não lhe perguntava e ela não lhe contava, no entanto estavam felizes com o status quo. Agora no entanto ele não sabia o que esperar. Foram dois dias de viagem até que chegassem à cidade portuária mais próxima e conseguissem tomar a embarcação que lhes levaria para a tal ilha. E o pobre padre rezou durante toda a viagem.
Alisa no entanto não havia percebido ainda os riscos de voltar a se fixar em um único lugar. Não pensava nos rapazes que poderia encontrar, nem nos problemas que poderia ter. Para ela a viagem parecia algo bom. E era com esses bons pensamentos que ela rumava em direção ao desconhecido.

A ilha em questão não era muito grande e a igreja onde eles supostamente viveriam não era nem metade do tamanho da que existia no convento em que ela fizera seus votos. No entanto tinha uma aura acolhedora e isso lhe pareceu bastar.
"Poderia procurar por galhos secos para que possamos preparar uma refeição, Alisa? Acho que seria mais do que merecido depois da nossa longa viagem," ele sugeriu.
A garota concordou e sem mais demoras saiu pelas portas principais e olhou à sua volta. Já era de tarde, o sol começava a se pôr e a paisagem ao redor da igreja era de tirar o folego. Já era outono, então o contraste dos raios do sol nas árvores fazia com que o cenário tivesse uma cor muito semelhante a de seus cabelos. Ela sorriu e começou a caminhar ao redor da igreja, procurando por gravetos secos. Foi quando ela se deparou com uma fonte de águas cristalinas próxima à igreja. E pensou se o padre também precisaria de água.
"Não é como se eu tivesse algo para pegar água agora de qualquer forma," ela pensou.
Abandonando as águas cristalinas e dando a volta por trás da igreja ela viu uma ponte e, compelida por sua curiosidade, resolveu explorar.
"Se tivermos que viver por aqui por muito tempo seria bom conhecer os arredores o máximo possível," ela exultou.
Não demorou muito até que ouvisse uma risada estridente e maliciosa.
"Ora ora, temos um rosto novo por aqui," uma voz feminina que vinha de trás dela disse.
Alisa se virou rapidamente mas não viu ninguém. Pendendo a cabeça para o lado e pensando se estava imaginando coisas ela ouviu o riso novamente.
"Você parece confusa. Que houve? Não acredita em bruxas?"
Alisa sentiu um calafrio atravessar sua espinha e resolveu que era hora de voltar. Mas não sem antes lançar um ultimo olhar para o lugar de onde a risada parecia vir. Ainda assim, ela não via nada.

"Você demorou. Estava começando a ficar preocupado," Nathan disse enquanto acendia o fogo.
"Me desculpe. Tive a impressão de ter ouvido uma voz," ela disse, um pouco envergonhada. E se tudo aquilo não passasse de sua imaginação?
No entanto o padre pareceu se animar e começou a lhe perguntar como era a voz e onde a havia escutado.
"Atravessando a ponte," ela disse. "Tem uma ilha vizinha à nossa, conectada por uma ponte. Foi lá que ouvi a voz."
O padre pareceu intrigado e murmurou algo de que Alisa só entendeu "a fonte". Tanto o padre quanto alisa deixaram o assunto de lado para focarem no preparo da refeição e, depois que estavam satisfeitos, se concentraram em limpar o lugar.
"Estive pensando em mandar fazerem uma estatua da Deusa para colocar atrás do altar. O que acha?" Ele perguntou.
"Acho que seria bom, afinal, queremos que as pessoas conheçam à doutrina Dela, não é?"
"Sim, sim. Falarei com a pessoa responsável amanhã pela manhã," ele se decidiu.

Nathan convidou Alisa para ir junto às outras ilhas para que se apresentassem mas ela preferiu ficar e limpar a igreja.
"Se alguém aparecer seria triste que encontrasse o lugar abandonado e todo sujo como está. Prometo que me esforçarei bastante!" Ela disse, com um sorriso.
"Conto com você então. Estou de saída," ele se despediu.
Alisa passou boa parte da manhã limpando o chão e tirando o pó dos instrumentos utilizados nas missas. Era hora do almoço quando ela parou para se alimentar. E enquanto comia se pegou pensando na ilha ao lado.
"Acho que tenho um tempinho de sobra, posso ir la novamente."
E foi o que ela fez. Saiu decidida a ouvir a voz novamente. No entanto, dessa vez, por mais que rondasse a ilha não ouvia som algum.
"Ela tinha mencionado a palavra bruxa, mas..."
Alisa não acreditava em coisas sobrenaturais. Quando lhe diziam que a Deusa era também algo sobrenatural ela logo argumentava que não, que ela era uma divindade, enquanto coisas sobrenaturais eram apenas frutos da imaginação.
"Talvez eu estivesse muito cansada ontem," ela pensou. Mas quando estava perto da ponte ela teve a impressão de ouvir o riso. Abafado, mas ainda assim o mesmo riso. se virou mas, novamente, não viu nada. E desistiu de sua busca para voltar às tarefas de limpeza e manutenção da igreja.

Os dias passavam lentamente na igreja e poucas eram as pessoas que apareciam. Alisa descobriu de uma forma interessante que não eram apenas os moradores da ilha que lhe visitariam mas também pessoas de outros cantos do mundo. Supostamente aquele arquipélago estava atraindo bastante atenção, ou era o que diziam os visitantes.
"É muita bondade sua vir nos visitar," Alisa estava agradecendo uma garota que usava uma bandana vermelha sobre sua cabeça e que sempre cheirava a terra ou a algum animal que Alisa ainda não conseguira distinguir. Ela apenas sabia que, definitivamente, não era cheiro de cachorro.
"É um prazer vir te ver Alisa," ela disse com um sorriso. "E eu costumo aproveitar a oportunidade para ver a bruxa. Ela é uma pessoa adoravelmente irritante," ela disse, rindo.
"Bruxa!?" Alisa repetiu, seu tom de voz um pouco mais alto que o de costume, assustando não apenas a garota de bandana mas também a própria Alisa. "Como assim bruxa?" Ela questionou num sussurro, quase inaudível.
"Ela mora na ilha ao lado. Não acredito que esta morando aqui há tanto tempo e ainda não a encontrou? Devo apresentá-las? Apesar de que acho que ela te odiaria, Alisa. Ela nutre um ódio totalmente estranho pela Deusa da Colheita."

Aquela noite Alisa se pegou pensativa. Como poderia haver alguém que odiasse a Deusa? Uma criatura tão boa e tão cheia de amor só poderia ser admirada, não é mesmo? Então se decidiu a mudar a opinião da tal bruxa. Tudo que tinha que fazer era encontrá-la. E era exatamente ai que ela não sabia como agir. Por vários dias Alisa atravessou a ponte e procurou, com esperanças de que a encontrasse. Imaginou que ela poderia ser pequena como um duende mas não obteve sucesso procurando por casas de duendes por ali. Também não ouvia o riso malicioso. Nem a voz estridente. Nada.
"Você tem que acreditar," disse a garota de bandana cujo nome alisa descobrira ser Chelsea. "Se não acreditar em bruxas ela não vai aparecer para você."
"Mas eu não acredito em bruxas!" Alisa protestou.
"Então tente fazer alguma maldade!" Chelsea provocou. "Aposto que você seria incapaz até mesmo de jogar um papel de bala no chão."
Aquelas palavras deixaram Alisa ofendida mas, ao mesmo tempo, lhe abriram uma janela de opções. Ser má não era algo que ela faria deliberadamente mas, se era para encontrar a dona do riso misterioso, ela estava disposta a arriscar. Portanto no dia seguinte Alisa pegou uma embalagem vazia de seu sorvete favorito, pediu perdão à Deusa pelo que estava prestes a fazer, e o jogou no mar.
"Ora, ora. Quem diria que uma garotinha tão correta como você seria capaz de fazer algo tão desagradável. Estou impressionada."
Alisa se virou num supetão e a viu. Uma garota com cabelos louros, olhos vermelhos, roupas roxas e uma capa preta com as pontas desgastadas pelo tempo. Se assustou e agarrou a outra garota ao sentir que ia cair, arremessando a si mesma e a outra nas pequenas ondas que quebravam na praia. Alisa estava pronta para pedir desculpas quando ouviu a outra garota gargalhar.
"Você é interessante, garota. Será que eu devia tomar seu coração?"

Alisa não dormiu aquela noite. Não conseguia esquecer seu encontro com a garota loira que se auto-intitulava bruxa.
"Por que te chamam de bruxa?" Ela havia perguntado.
"Porque é o que eu sou, oras. Faço feitiços e encantamentos como ninguém. Me surpreendi quando descobri que tinha gente vindo para viver na igreja da ilha do lado mas não imaginei que haveria alguém tão interessante assim."
"Interessante?" Alisa perguntou com tom ofendido, pensando que a outra estava debochando dela. "O que tem de tão interessante?"
"Você é uma seguidora da deusa, não é? Supostamente seguidores da Deusa devem seguir a ordem e os bons costumes e nunca fazer nada de errado. Chelsea comentou comigo que você havia me ouvido e que eu devia me mostrar para você, mas como eu poderia se você não acreditava em mim?"
"Mas eu ainda não acredito em bruxas," Alisa protestou.
"Isso é verdade. Mas você acredita na minha existência o bastante para ter cometido algo ruim. Isso bastou para que você pudesse me ver."
Alisa se sentia incomodada mas ao mesmo tempo curiosa. E pensou que com o tempo tentaria descobrir mais da outra garota.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Capítulo 2 - Flores Silvestres

Capítulo 2 - Flores Silvestres

Quando você é criança e assiste filmes como Mudança de Hábito ou Noviça Rebelde você pode, inconscientemente, ficar com a impressão errada. Alisa foi uma dessas pessoas que foi enganada por como conventos são retratados em filmes.
"Por que quer se juntar a esse convento?" A madre superiora perguntou após ler a ficha que Alisa preencheu para se tornar uma noviça.
"Quero servir à Deusa da Colheita," foi o que ela respondeu de imediato.
Alisa havia lido e relido as questões da ficha e praticamente decorou as respostas que devia dar para que conseguisse entrar no convento. Foi ai que seu primeiro erro começou.
"Não quero uma resposta tão simples. O que te aconteceu que te fez vir até nós de forma tão desesperada?"
"Desesperada?"
Alisa ficou confusa ao ouvir tal palavra. Ela parecia mesmo estar tão desesperada? O motivo principal que fez com que Alisa quisesse entrar no convento era para se isolar e ficar longe dos homens. Isso era tudo que ela queria.
"Mas provavelmente a madre vai me recusar se eu der uma resposta dessas, não vai?" Ela pensou.
A madre cruzou as mãos sobre a mesa e apenas observou, fazendo esforço para não rir de vez em quando em reação às caretas que Alisa fazia enquanto debatia consigo mesma a possibilidade de contar à madre toda sua triste (e curta) vida amorosa. Decidiu por não fazê-lo e finalmente encarou-a.
"O mundo é um lugar hostil, madre," ela começou. "Descobri a crueldade em lugares que não imaginava que poderia. Quero me tornar uma noviça para poder trazer conforto aos que dele necessitam."
A madre ergueu a sobrancelha. A garota havia feito tanto esforço e acabou respondendo com uma resposta tão genérica que fez com que a madre quisesse saber mais. Mas percebeu que não devia pressionar a garota mais do que aquilo.
"Quando ela estiver pronta, ela mesma me contará," pensou a madre, e continuou com o questionário.

Era primavera e as irmãs dividiam as funções de acordo com patentes invisíveis que faziam sentido conforme eram observadas. As irmãs que já eram consideradas idosas davam conta dos trabalhos de caridade, pois a maioria das pessoas da cidade reagia melhor ao serem abordados por velhinhas. Ja as outras se dividiam nos outros dois setores do convento: produção e distribuição. Alisa não queria lidar com o publico então se voluntariou para a parte de produção, sendo enviada para o pomar. Lá ela não pode deixar de sentir falta de uma coisa.
"Por que não plantamos flores?" Alisa perguntou para uma das irmãs mais velhas, responsável pela parte onde ela estava.
"Flores não podem ser usadas como alimento, podem?" Ela respondeu num tom de voz doce mas irritado. "Nós estamos aqui para cultivar o alimento, é para isso que esse pomar serve. Esqueça as flores, elas não têm lugar aqui," ela disse, virando as costas e dando a conversa por encerrada.
Alisa se sentiu sem reação e resolveu fazer o que a irmã havia instruído, voltando ao trabalho. Foi quando percebeu pequenas flores silvestres crescendo perto das raízes de uma das árvores. Com medo de que uma das irmãs as arrancasse sem dó nem piedade Alisa cavucou o chão ao redor delas, removendo-as cuidadosamente e imaginando onde poderia escondê-las até que o serviço estivesse terminado. Não demorou muito até que tivesse a ideia de escondê-las junto de uns arbustos frutíferos.
"Vocês estarão seguras aqui. Esperem que vou cuidar de vocês."
E quando os trabalhos no pomar estavam terminados, Alisa deu uma desculpa de que tinha esquecido algumas ferramentas e que voltaria para buscá-las. Nenhuma irmã suspeitou, e isso foi o bastante. Alisa não tinha muito tempo então usou toda a determinação que tinha para correr até um dos extremos do pomar, plantando as flores distantes o suficiente para que não corressem risco de serem arrancadas pelas outras irmãs.
"Se tiver sorte, posso acabar achando mais delas por aí."

Conforme a estação ia passando as irmãs que trabalhavam com Alisa perceberam que alguma coisa estava acontecendo. Alisa sempre dava alguma desculpa para ficar até mais tarde no pomar e,, conforme o tempo passava, ela demorava mais e mais para voltar.
"Ela deve estar se encontrando com alguém, madre. Devemos fazer uma armadilha e apanhá-la em flagrante."
A madre duvidava que aquilo fosse verdade mas acabou cedendo aos apelos das irmãs. Algo estava acontecendo e isso era um fato, só restava saber o que era. E assim, num belo dia de sol, as irmãs se afastaram de Alisa como sempre faziam quando ela avisava que havia algo que esquecera, apenas esperando o tempo certo parta segui-la de longe. Não souberam, no entanto, o que fazer quando repararam que havia um pequeno jardim cheio de flores silvestres bem ao lado do pomar.
"Eu te disse que não plantamos flores, não disse?" a irmã responsável a reprimiu.
"Mas nós servimos à Deusa da Colheita, não?" Alisa perguntou após reunir toda sua coragem. "Flores também são uma obra dela, não são?"
Alisa se ajoelhou no chão e fez posição de prece, pedindo para que alguém intervisse por suas flores. lágrimas rolando pelo seu rosto. Foi quando ela ouviu aquela voz tão distante mas tão conhecida que lhe encheu de esperança.
"Ja chega."
Era a voz da madre. As irmãs abriram espaço para que ela passasse e a irmã responsável forçou Alisa a se levantar e secou ruidosamente as lágrimas do rosto da jovem.
"De onde arrumou todas essas flores, Alisa?" A madre perguntou.
"São flores silvestres, madre," Alisa começou, fungando. "Elas estavam nascendo espalhadas pelas raízes das árvores. Imaginei que as irmãs responsáveis pela poda simplesmente as tratassem como ervas daninhas e as arrancassem. Fiquei com dó e fui trazendo elas de pouco em pouco para cá. Agora tenho um pequeno jardim cheio delas. São seres vivos também, madre. Por favor," ela soluçou, "não permita que o destruam."
Pousando a mão sobre o ombro de Alisa a madre silenciosamente a guiou de volta ao convento, para onde as outras freiras também seguiram.
"Quero falar só com essa jovem," a madre instruiu para as irmãs responsáveis. "Façam com que as outras jantem e façam suas orações."

"Você gosta tanto assim de flores Alisa?" A madre perguntou.
A jovem estava envergonhada e com medo, logo só acenou um sim com a cabeça.
"Você tem muito amor dentro de seu coração, Alisa," A madre começou, percebendo que Alisa havia se mexido na cadeira onde estava sentada à menção da palavra amor. Então prosseguiu. "Se importou tanto em salvar aquelas pequeninas flores, sem esperar ajuda ou reconhecimento de ninguém. É uma atitude nobre. Mas mostra que você não consegue fugir dos seus sentimentos."
"Que sentimentos?" A garota perguntou, eufórica.
"Os sentimentos de carinho e amor."
"Mas posso suprimi-los, se assim for preciso," Alisa respondeu de imediato, pensando mais nas experiências amorosas que tivera do que nas pequenas flores que salvara. A Madre percebeu isso.
"Você não poderia servir à igreja com esses propósitos," a madre replicou.
Alisa se viu perdida e desolada. Nesse momento as flores fugiram de sua mente. Tudo que sentia era o aperto em seu peito.
"Vou te mandar para outro lugar," a madre começou depois de uma pausa. "Existe um de nossos padres que esta viajando para levar os ensinamentos da Deusa à outras terras. Tenho certeza que você se sairia melhor estando com ele."
"Mas e minhas flores?" Alisa perguntou, não pensando realmente nas flores mas no medo que sentia de abandonar tudo que lhe era conhecido.
"Não se preocupe," a madre disse, acariciando a farta cabeleira vermelha de Alisa. "Eu mesma me certificarei de que sejam bem cuidadas. E te mandarei fotos todos os meses, para que veja como elas estão ficando."
Alisa sorriu mas seu sorriso era triste. E apesar de não terem trocado mais uma palavra sequer, Alisa sentiu que a madre era a pessoa que mais lhe entendia, mesmo que ela nunca lhe dissesse nada.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Capítulo 1 - Meninos e Homens

Primeira versão vai ser em português, já que eu preciso escrever essa história antes que ela saia da minha cabeça. Antes que os sentimentos que me movem sumam. Essa vai ser uma fanfic curta sobre sentimentos não tão prazerosos que restam quando o amor acaba. Seja lá para que lado o amor acabou. Essa fanfic é dedicada ao homem que me fez sentir esses sentimentos, Edgar.

Capítulo 1 - Meninos e Homens

E se você amasse tanto alguém que esse amor te doesse ao invés de te trazer felicidade? Alisa era uma garota comum, vivendo numa região rural de um país pacato. A vida era sempre igual, todos os dias se repetindo como num filme. Ela acordava cedo para ir para a escola, um colégio feminino muito prestigiado na área. Muitas garotas de outras regiões vinham estudar naquele colégio devido sua boa reputação. Foi nesse colégio que Alisa conheceu o amor pela primeira vez.

"Bom dia professor!"
"Bom dia garotas!"
O grupo de garotas que havia se dirigido ao homem mais velho saiu aos risinhos, felizes com a conquista de um bom dia de seu professor favorito. A verdade era que aquele professor era o único homem e, para ajudar com sua fama, era bem novo. E casado. muito bem casado. Mas a maioria das garotas não se importavam com isso.
"É nossa juventude, deixe que sejamos felizes e amemos quem quisermos!"
Alisa não era muito diferente daquelas garotas. A diferença é que ela era tímida demais para encará-lo e dizer bom dia. Tudo que ela via quando eles se cruzavam nos corredores eram suas costas. Ele não era um homem muito alto, nem muito forte, mas seu sorriso podia iluminar um estádio de futebol inteiro. Era o que as garotas diziam. E quando elas se reuniam para falar de garotos, invariavelmente o professor era citado.
"Eu finalmente arrumei um namorado," uma delas disse, cantando vitória e arrancando vários suspiros e indagações das outras garotas. "Mas não vou deixar de admirá-lo. Ele é muito bonito para eu parar de admirar só porque tenho um namorado."
As garotas ao redor riram e se calaram ao ouvirem o sinal de que a próxima aula estava para começar.
"É ele, não é?" Uma perguntou
"Sim, é."
E a classe se silenciou.

Uma garota estava de pé ao lado do carro do professor, suas faces coradas enquanto seu olhar não se desviava do chão.
"Eu te amo!"
As palavras proferidas pela garota saíram mais alto do que ela gostaria e para não perder a oportunidade, já que sua coragem estava prestes a lhe abandonar, ela ergueu o olhar, fitando os olhos assustados de seu professor e lhe beijando os lábios antes de correr do local, como um criminoso deixando a cena do crime. O professor ficou sem ação por um segundo antes que seus olhos varressem ao seu redor, receoso de que houvesse alguma testemunha. Foi quando ele viu, dentre os arbustos, um par de olhos azuis, rodeados de uma cabeleira vermelha como a chama de um fósforo. Alisa, que estava tão surpresa quanto o professor, correu o mais que pode, sentindo que havia presenciado algo que não devia.

"Eu preciso te explicar o que aconteceu!" O homem pedia insistentemente.
"Eu não vi nada, não ouvi nada, o senhor não me deve explicação nenhuma. Por favor, me deixe ir," ela pediu.
Alisa sabia o que aconteceria caso fosse vista naquela situação. Desde que presenciara a declaração amorosa de outra garota e o beijo roubado, Alisa havia sido perseguida pelo seu professor querido, que tentava insistentemente explicar o que havia acontecido, enquanto ela insistentemente fugia dele, com medo de algo que nem ela sabia o que era. Ou não sabia até aquele momento. Alisa não era muito boa em corridas por conta de sua baixa estamina, Isso facilitou ao professor alcançá-la quando a viu correndo pelos corredores, tentando evitá-lo. Ele não a chamou, com medo de que chamá-la apenas atrairia atenção indesejada, mas as outras garotas não podiam ignorar o fato de um professor estar correndo nos corredores. Ainda mais quando ele corria atras de uma aluna que também estava correndo. Quando ele finalmente a alcançou ela estava ofegante e sua face corada. Ela não conseguiu distinguir se seu coração batia acelerado por toda a correria ou pelo fato de seu querido professor estar segurando sua mão. O fato era que ele estava ali, querendo lhe explicar algo que ela não precisava e não queria saber. Ainda assim ela se permitiu parar para ouvi-lo.
"Foi um acidente, eu não esperava que ela me beijasse. Por favor, não fale nada para ninguém, eu sou novo e seria um problema se minha reputação fosse manchada."
"Não se preocupe, eu não vou contar nada."
"Ainda bem," ele suspirou, aliviado, e seu sorriso era realmente uma fonte de luz. Uma luz tão forte que cegou os olhos de alisa para as garotas que observavam à distância.

Não demorou muito até que Alisa começasse a ter problemas. Ela nunca foi uma garota de conversar muito mas também nunca teve problemas para se relacionar com as garotas de sua classe. No entanto, boatos se espalham rápido numa escola feminina, e antes que ela soubesse, ela se tornou um alvo.
"É ela, não é?"
"Sim, a própria."
Alisa ouvia os sussurros, mas não entendia. Até que algumas garotas esbarravam em seus livros, deixando que eles caíssem no chão, sem voltar para ajudá-la. Não eram raras as ocasiões em q, enquanto Alisa recolhia seus livros do chão, uma ou outra garota passassem e pisassem em cima deles. A carteira onde ela sentava sempre tinha rabiscos quando ela chegava. Ela mesma se esforçava para limpá-los, pois pensava que se algum professor visse os rabiscos podia achar que tinham sido feitos por ela. Com o tempo começou a não querer ir para a escola. Só ia pois sua mãe insistia muito.
"Você precisa se formar e continuar os estudos. Isso vai definir seu futuro! É importante!"

Foi com muito custo que Alisa terminou aquele ano escolar. Seu professor não lhe parecia mais alguém especial. Sem amigos ou pessoas que lhe fizessem sentir amada e querida, Alisa decidiu que no ano seguinte estudaria em outra escola.
"Uma escola mista?" Sua mãe perguntou, surpresa. "Achei que você gostasse desse colégio."
"Por favor," foi tudo que Alisa conseguiu dizer.
Sua mãe não era das mais exigentes, logo concordou. No ano seguinte Alisa começou a estudar numa escola mista que tinha na cidade vizinha. Ela tinha que acordar bem cedo e pegar uma charrete que levava os alunos que moravam longe até a escola, mas para ela o sacrifício era valido se ela pudesse esquecer o passado no colégio feminino.

Uma escola mista não é um problema tão grande para pessoas que estudaram a vida toda em um colégio misto. No entanto, para Alisa, que não tinha tido muito contato com garotos, o colégio misto era um inferno. Seu cabelo vermelho a fazia um alvo fácil de reconhecimento e sua personalidade tímida fazia com que as minimas provocações tomassem dimensões desproporcionalmente grandes. Ela colecionou apelidos desde os inocentes como 'laranjinha' até os mais maliciosos como 'fogueta'. Naquele colégio Alisa conheceu o amor uma segunda vez, mas dessa vez com um garoto da sua idade. Inocentemente ela achou que seria mais fácil lidar com um garoto da sua idade do que com um professor. Mal sabia ela que estava enganada.
O garoto em questão já tinha uma namorada, fato que ela não sabia quando o conheceu. segundo ela ficou sabendo, a tal namorada era mais velha que ele e já estava na faculdade. Sabendo disso Alisa começou a pensar se devia se afastar dele. Quando ela parava pra pensar no que ela gostava nele, nem ela mesma sabia responder. Ele não tinha nenhuma característica muito marcante. Não era o garoto mais bonito da classe, nem o mais inteligente, nem o melhor nos esportes. Não era de conversar muito com as garotas mas era gentil com as que conversava. Alisa se sentia bem perto dele pois ele a defendia dos outros garotos quando estes a chamavam por apelidos.
"O nome dela é Alisa!" Ele dizia, com a cara séria.
Os outros garotos riam e tiravam sarro mas ele não ligava. E Alisa ligava menos ainda. Ela acreditava que podia aguentar os apelidos e as provocações contanto que ele estivesse por perto. Saber que ele tinha uma namorada não mudava muito as coisas, pois ela nunca a tinha visto. Era como se fosse apenas uma história. Uma história contada para que ninguém chegasse perto.
"Só faz com que eu queira estar mais perto ainda," era o que ela pensava.
E realmente, no ano seguinte, o ultimo ano do colégio, Alisa ficou muito próxima dele. Tão próxima que ela se assustou quando recebeu a visita de uma garota mais velha. Ela tinha cabelos vermelhos como os de Alisa mas seu corpo era o de uma mulher, suas roupas eram elegantes, diferentes do uniforme que Alisa tinha que usar.
"Por um acaso você se chama Alisa?" A garota perguntou.
"Sim, sou eu," ela respondeu, timidamente.
"Eu vim tirar uma história a limpo. Sabe, andam dizendo que você esta dando em cima do meu namorado..."
A garota não precisou terminar a frase para Alisa entender quem ela era. Seu coração parou por um instante, suas mãos suaram e seu corpo tremeu.
"Essa era a namorada. Não era apenas uma história afinal."
Mais do que depressa Alisa se explicou para a garota, mentindo sobre seus sentimentos. Ela não pretendia se arriscar por um sentimento que só ela nutria. Nem pretendia por um relacionamento em risco por conta de seus próprios.
"Ele é apenas meu amigo," ela conseguiu dizer, interrompendo a garota. "Apenas meu amigo."
"Ah é?" A garota perguntou, olhando bem para Alisa antes de dar um sorriso. "Tem razão. Ele não me trocaria por uma coisinha como você."
Alisa achou que já estava acostumada a ser provocada com brincadeiras e apelidos. No entanto, naquele momento, a dor que ela sentia era pior do que qualquer apelido ou brincadeira maldosa jamais tinha lhe proporcionado. Foi quando ela começou a se fechar para o mundo. Terminou os estudos como sua mãe queria e começou a procurar por um convento. No fim das contas, seu tempo no colégio feminino a fez pensar que conviver com outras garotas era mesmo melhor do que conviver com os garotos.

"Homens são maus. Tenho que manter distancia deles," ela decidiu.