segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - O Pai

Quase esqueci de hoje de novo! A história de hoje vai ser baseada em uma ideia que eu tive para uma fanfic que estava escrevendo mas que parei. Talvez, quando tudo isso acabar, eu volte a escrever aquela fanfic. Hoje, no entanto, trago para vocês o que chamo de background dos personagens Lilian e Philip, dois irmãos que tiveram que se separar para conseguir resistir. São personagens principais de um dos vários jogos de Harvest Moon. Espero que gostem!

Era uma noite chuvosa e fria. Eu abraçava Lilian em meus braços enquanto ela tapava os ouvidos. Dava para ouvir os gritos vindos da cozinha, o estalo de um tapa, os passos que corriam para o quarto e os que seguiam, incertos, enquanto a pessoa que produzia os passos se escorava na parede para não cair.
-Volte aqui, agora!
Ele tentou abrir a porta do quarto e não conseguiu. Foi só quando ouvi os passos continuando que lembrei que não tinha trancado a porta do nosso quarto. Me repreendi e carreguei Lilian até o armário.
-Fique escondida aí, não saia até eu dizer que está tudo bem!
Ela só acenou com a cabeça. Fechei a porta e me preparei para o que estava por vir. A porta se abriu. A mão grande e pesada de meu pai me agarrou pela camisa e sem resistir, apanhei. Apanhei no lugar da minha mãe e da minha irmã. Quando ele finalmente parou, mais por estar bêbado demais para continuar do que por qualquer coisa, Lilian abriu a porta do armário.
-Eu te disse para esperar.
Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, Lilian pegou minha mão e começou a chorar. Me ajudou a levantar e me carregou, da forma que pode, para fora de casa. Sentamos na varanda e ficamos observando a chuva. Eu pelo menos fiquei. Lilian deve ter saído em algum momento sem eu perceber, pois da mesma forma que não percebi sua saída, não percebi que tinha voltado até que ela encostou um pano úmido no meu lábio inferior. Ardeu. Ela afastou o pano, um pouco assustada, mas logo continuou limpando os machucados.
-Pode me avisar se começar a doer.
Acenei que sim com a cabeça e deixei que ela continuasse. O som da chuva era tranquilizador. Não queria pensar em nada, mas algo perturbador passava pela minha mente. Queria acabar com aquilo, e logo. Nossa mãe não aguentou muito tempo mais e nos abandonou. Cansado de apanhar, arrumei duas pequenas malas, uma para mim e uma para Lilian, e a levei para a casa de parentes. Eles não fizeram perguntas, mas foram bem claros que só poderiam abrigar um de nós.
-Tudo bem, cuidem da Lilian. Eu consigo me virar.
Lembro até hoje de como ela segurou minha mão e chorou. Como naquele dia chuvoso. Foi com dor no coração que me despedi dela com um abraço e parti para a cidade. Lá havia todo tipo de trabalho, mesmo que fosse para uma pessoa jovem como eu. Com certeza eu conseguiria arrumar algo. Talvez até conseguisse sobrar um pouco para mandar pra Lilian às vezes. Uma vez consegui economizar o suficiente para lhe mandar um presente de aniversário, mas ela me escreveu uma carta. "Prefiro que me mande cartas para saber como você está do que receber um presente". Não me arrependia do que tinha feito.
Passaram anos até o da que o vi de novo. Achava que talvez estivesse morto, mas não, ali estava ele. Parecia outro homem, bem vestido, segurando uma outra mulher pela mão e uma pequena criança no colo. Pensei em me aproximar e alertar sobre o perigo que aquele homem  representava, no entanto, ele olhou para a criança e sorriu. E seu sorriso era como o de Lilian, quando eu ainda conseguia vê-la sorrindo. Cerrei os pulsos e virei as costas. Que direito ele tinha de recomeçar, depois de tudo que tínhamos passado? Pelo menos Lilian estava a salvo e nunca mais teria que ter medo. Naquele dia, escrevi uma carta e pedi que ela me mandasse uma foto. Sorrindo. Eu aguentaria qualquer coisa, contanto que ela pudesse ser feliz.

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