segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - Cão Morto

Eu até comecei a escrever a história ontem, mas acabei me distraindo com um cachecol que estou quase terminando. Quem me conhece um pouco pessoalmente sabe que eu tenho e tive muitos cães. A história de hoje poderia ser a respeito de qualquer um deles. No entanto escolhi reescrever uma história que li em um livro que minha avó me deu quando eu ainda era criança. Será reescrita com minhas palavras, num ponto de vista diferente do que a história original foi, mas basicamente é a mesma história. Se alguém se interessar, posso procurar o livro e acharo título da história original, mas prefiro que não. Logo vocês vão entender porquê.

Vivíamos em um lugar muito pobre. Éramos em 6, minha mãe, eu e meus irmãos. Lembro que um dia fomos resgatados. E aos poucos, cada um de nós foi sendo adotado. Foi triste ser separado de minha mãe, mas o homem que me adotou era bom e cuidava bem de mim. Me dava comida, água e atenção. Às vezes até passeava comigo no parque. Nos dias que ele não me levava, eu ia sozinho. Ele não me mantinha numa coleira, então podia ir e voltar pra onde quisesse. Uma vez, num dia chuvoso, quase me perdi. Foi pelo cheiro dele que consegui voltar pra casa.
Um tempo passou e lembro que meu dono passou a parecer mais preocupado, mais triste. Me levava pra passear com mais frequência e tinha pego o habito de fumar. Odiava o cheiro. Em um de nossos passeios ele me levou na casa de um amigo. Disse que tinha que se mudar. Que precisava de um novo dono pra mim. Que era sua única opção. O amigo não pareceu se importar. E fui deixado ali.
Meu novo dono tinha uns hábitos estranhos. Sempre que eu me aproximava, ele parecia ficar mais irritado. Eu me aproximava mesmo assim. Ele não me fazia carinho, mas eu o recebia com alegria mesmo assim. Água e comida ele nunca deixava faltar, mas nunca me levou para um passeio.
Por esse motivo, fiquei feliz quando ele colocou uma coleira no meu pescoço pela primeira vez. Ao contrário do meu antigo dono, eu não tinha muitas chances de ir pra rua, então fiquei feliz e saltitante. Fomos até a praia. Ele me colocou em um pequeno barco e começou a remar. Estávamos bem longe da praia quando ele me pegou no colo. Foi a primeira vez que ele me pegou no colo, e foi uma sensação muito boa. Então ele desajeitadamente me jogou na água. A corrente que usava no pescoço se enroscou na minha pata e acabou caindo comigo no mar. Mergulhei para pegá-la, mas quando voltei à superfície, percebi que o barco não estava mais no mesmo lugar. Ele estava indo embora. Comecei a nadar, mas o mar estava revolto, era difícil nadar. Com a corrente presa em meus dentes, acabava bebendo muita água salgada. A sensação era horrível, mas precisava alcançá-lo.
Cheguei na praia exausto. Mas só encontrei o barco. Ele não estava mais lá. E tinha começado a chover. Eu não gostava de chuva. Me apressei como pude para não perder o rastro do cheiro dele. Farejei meu caminho de volta. Mas estava tão cansado...
Quando cheguei de volta para casa, raspei a porta com as forças que me restavam. Não demorou muito para ele abrir a porta. Estava ficando difícil de respirar. Então, caminhei com as forças que me restavam até seus pés, onde me deitei e respirei aliviado. Tinha trazido a corrente de volta. E estava em casa. Podia descansar.

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