domingo, 29 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - Céu

Historinha pequenininha e bonitinha para aquecer os corações nessa noite fria.

Quando eu era pequena gostava d ficar do lado de fora de casa, deitada na grama, olhando pro céu. Minha mãe até me mandava ir brincar com as outras crianças, mas elas eram muito agitadas. Tinham vezes que eles até inventavam brincadeiras divertidas e eu participava. Uma vez brincamos de fazer bolhas de sabão. Foi bastante divertido. Gostava de soprá-las pra cima depois de feitas e observar enquanto caiam no chão. A maioria das outras crianças gostavam mesmo era de soprar e estourar as bolhas.
Outra brincadeira que eu gostava muito era de esconde-esconde. Eu costumava subir em uma árvore e ficar lá, até que me encontrassem. Funcionou até que se acostumassem a me achar nas árvores e eu desisti de brincar. Era muito entediante me esconder em outros lugares.
Quando todos nós entramos na escola eu achei o fim. Ficava muito tempo dentro da sala de aula e quando saíamos, era pra fazer educação física. Não dava tempo de olhar o céu de dia, então comecei a observar o céu de noite. Teve um dia que até vi uma estrela cadente! Lembrei das histórias que me contavam e fiz um pedido. Mas demorou muito tempo até que ele se realizasse.
Cresci e descobri algumas profissões que estudavam o céu. Descobri a astronomia e a astrologia, os cientistas e os astronautas. Tantas opções! Mas conforme fui tentando me envolver com cada uma delas, fui percebendo que cada uma tinha seus pontos de sacrifício. E eu não estava disposta a sacrificar nada. Foi quando me deram a melhor sugestão. E comecei a pintar.
Comecei com um caderno de desenho. Daqueles pequenos, na época da escola mesmo. Sempre que me pediam pra desenhar algo, eram nuvens em um céu azul. Assim mesmo. Às vezes desenhava um sol. Uma vez até tentei desenhar o céu de tarde, mas disseram que tinha ficado feio e resolvi não tentar de novo. Por um bom tempo, não tive coragem de pintar céus no entardecer. Uma pena, pois conforme crescia, se tornava meu favorito. Era divertido pintar um céu noturno com estrelas. Também era fácil desenhar um céu diurno com nuvens. Mas os céus que realmente me encantavam eram aqueles cheios de cores e texturas. Um céu nublado cheio de nuvens de chuva, por exemplo. Ou o céu no amanhecer. Poucas pessoas sabem como parece o amanhecer. Eu mesma só fui conhecê-lo quando comecei a trabalhar.
A transição de cadernos de desenho para telas se deu mais ou menos nessa época. Trabalhando era mais fácil ter dinheiro para comprar materiais nobres. No entanto, faltava tempo. Nunca pintei pensando em expor, mas um amigo viu e resolveu tentar. Foi um sucesso pelas primeiras semanas mas conforme o tempo passou, começaram a surgir reclamações. Só tinham pinturas de céu. As pessoas esperavam mais.
Só que eu não, então fiquei um tempo sem expor minhas pinturas. Passei a ser uma artista sazonal e funcionou bem pra mim. Não era tão corrido e ainda tinha um público fiel que comprava minha arte. Como não era minha principal fonte de renda, não passava necessidade. Pensava em como devia ser para uma pessoa que realmente se dedicasse de corpo e alma àquela profissão. Mas nada disso fez com que minha paixão mudasse. Minha primeira viagem de avião foi uma das melhores experiências que vivi. Tive outras, mas não me causavam a mesma empolgação.
Troquei de empregos algumas vezes. De namorados, mais uma porção delas. Me chamavam de avoada, de cabeça nas nuvens. Não me ofendia. Era bem o que eu era mesmo. Uma garota com a mente e o coração nas alturas.

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