sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - Quem sou eu?

Pronto, pronto, passou... Vamos esquecer de ontem e viver o hoje. Hoje é o futuro de ontem, mas não pensemos no amanhã. Vamos viver o hoje. Vou lhes contar uma história mais leve dessa vez... Baseada em trechos de um filme que assisti, mas não lembro o nome nem de tudo, então ela vai ser assim também, em trechos.

Quando abri meus olhos vi uma mulher deitada ao meu lado. Ela parecia familiar, mas não conseguia me lembrar de quem era.
-Por Deus, será que bebi ontem à noite?
Sabia da minha fraqueza para o álcool e o evitava, mas vez por outra acaba vítima de um inocente bombom de licor. Meus colegas de trabalho achavam engraçada essa brincadeira até que um dia eu passei realmente mal e apaguei. Me levaram para o hospital e ainda levaram uma bronca do médico. Achei foi bem feito. Estava divagando ainda sobre os efeitos do álcool em mim quando percebi que a mulher tinha acordado e estava olhando pra mim, com um sorriso afetuoso.
-Bom dia amor.
"Amor"!? Não estava indo muito rápido? Nem a conhecia. Abri a boca para reclamar mas não consegui dizer nada. Percebi que tinha um pequeno montinho entre nós, debaixo das cobertas, se mexendo.
-Bom dia!
A pequena parecia uma versão miniatura da mulher que estava deitada ao meu lado.
-O que foi papai? Parece que viu um fantasma.
-Seu pai deve estar com sono, deixe ele descansar mais um pouco. Vou preparar o café.
Pai? As coisas estavam realmente indo por um rumo que eu não entendia. A pequena veio me abraçar, mas a detive.
-Um instante, preciso ir no banheiro.
Onde era o banheiro? Parecia minha casa, mas também parecia diferente. Arrisquei ir no cômodo que costumava ser o banheiro na minha casa e fiquei feliz de ver que tinha acertado. Fui até a pia e lavei o rosto. Quando olhei para meu reflexo no espelho notei várias rugas a mais e vários cabelos brancos que não tinha. Era eu, mas não exatamente eu. Me via naquele rosto mas não o reconhecia como eu mesmo. Ouvi uma batida na porta e imaginei que fosse a mulher.
-Já vou.
Tinha que tomar muito cuidado com o que fazia, com o que dizia, com aquelas duas pessoas que estavam na minha casa. Quem eram? O que estavam fazendo ali. Tinha que descobrir, mas como? Desci para a cozinha e estranhei todas as mudanças na casa. Realmente parecia que as duas estavam morando ali fazia algum tempo, pois minha sala agora parecia um pequeno playground, cheio de brinquedos espalhados pelo chão. Acho que a pequena deve ter notado, pois se desculpou e correu para juntar os brinquedos.
-Faça isso depois de tomar café Alice.
Alice! Ótimo, tinha o nome de uma delas pelo menos.
-Tudo bem, eu ajudo. Assim terminamos mais rápido.
A mulher me olhou, espantada.
-Tá bom, vou terminar de preparar as torradas!
Me abaixei e comecei a ajudar a pequena, que parecia extremamente feliz com a ideia de eu estar ajudando. Pelo menos foi o que me pareceu. Já sabia seu nome, mas como entrar no assunto?


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Ela estava aos prantos.
-Você parece outra pessoa!
Ela não estava lá tão errada. 
-Me desculpe. Eu não sei como explicar.
-Você nem está tentando! Não está me dizendo nada! Parece a época em que nos conhecemos, que eu tinha que ficar te cutucando pra que você me falasse as coisas. Eu não quero voltar naquela época, então se está passando por algum problema, me diga. Podemos passar por isso juntos, como fizemos por todos esses anos.
Ela estava segurando minha mão enquanto dizia isso, mas não me olhava. Parecia estar se acalmando, mas ainda chorava. Coloquei minha mão em seu ombro e a trouxe para mais perto de mim. Ela não se segurou. Me abraçou e começou a chorar mais ainda.
-Desculpa, vou sujar seu terno.
Ela tentou se desvencilhar dos meus braços, mas não permiti. A abracei mais forte.
-Tudo bem, depois eu mando lavar.


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A segurava com uma mão, na outra, levava o cão na coleira. Quando chegamos no parque, soltei os dois. Correram alguns metros. Alice se jogava em cima dele e ele rolava na grama. Algo dentro de mim fez com que eu corresse até eles e me jogasse na grama também. Minhas costas doeram um pouco, mas me sentia feliz.
-Você voltou!
Estava tão distraído que não percebi quando Alice segurou meu rosto entre suas pequenas mãozinhas. E sem perceber, sorri mais.
-Sim, eu voltei.
Abracei Alice e passei aquele dia com ela e o cão no parque. Em casa, carreguei Lisa para o nosso quarto e, pela primeira vez desde que toda essa loucura começou, fiz amor com minha esposa. 
Quando acordei no dia seguinte, estava sozinho na cama. Me espreguicei e desci as escadas até a cozinha. Tinha algo errado. Não encontrei nem Lisa, nem Alice, nem Bethoven. A casa estava extremamente limpa e a decoração era de quando eu estava solteiro. Corri para o banheiro e me olhei no espelho. Me vi exatamente como me lembrava. Mas me sentia vazio. Liguei para o trabalho e disse que ia faltar. Motivos de saúde. Já sabia onde encontrar Lisa, mas não fazia ideia de como iria explicar tudo para ela. E, mesmo que explicasse, não havia garantia nenhuma de que ela entenderia. Afinal, fazia tanto tempo que não nos víamos que era capaz dela nem me reconhecer mais. No entanto, valia a pena arriscar. Depois daqueles dias que vivi, sentia que era impossível viver mais um dia que fossem sem elas.

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