domingo, 15 de setembro de 2019

Desafio dos 30 Dias - A Puta está Morta

A história de hoje é um pedaço de passado. Contado do jeitinho que me lembro, mesmo que seja doloroso lembrar.

Quando comecei a jogar jogos online, percebi uma coisa peculiar: os homens são burros e facilmente manipuláveis. Meu primeiro personagem era uma arqueira que podia se tornar uma caçadora ou uma odalisca. Minha ideia era ser uma caçadora, pois tinha uma amiga que também era, mas conheci um bardo que era muito legal comigo e que falou que, se eu me tornasse uma odalisca, poderíamos dançar duetos juntos. Parecia maravilhoso, então me tornei uma. Pouco tempo depois, casamos nossos personagens. E pouco depois disso, ele sumiu. Eu era do tipo que gostava fácil. Homens? Eu os tinha aos montes. Não foi uma perda tão grande que ele sumisse. Quando ele apareceu de novo sugeriu que nos divorciassemos, pois era uma maldade que eu continuasse casada com ele sendo que ele não ia mais jogar. Foi o que ele fez, e pouco tempo depois eu recebi várias propostas de casamento. Um amigo, que também era um dos meus homens na época, disse que eu não podia me casar, pois eu era popular e que sempre teria pelo menos meia dúzia de homens chorando por eu não ter casado com eles. A verdade é que ainda hoje existem pessoas daquela época que me abordam dizendo que eu devia ter me casado com eles. Faz parecer que teria mudado algo.
Tinha homens de todos os tipos, de todos os cantos do planeta. Homens que amavam minha personagem, minha personalidade, mas que não sabiam nada de quem eu era. Me tornei um pouco mulher por causa deles. Como um outro amigo diz, muita porra foi derramada por mim. E é verdade. Não sei se me orgulho disso. Eu gostava da minha personagem pois ela era amada de um jeito que eu nunca tinha sido. Até que o conheci.
Ele pertencia à mesma guilda que eu, mas não nos falávamos muito. Começou num dia que estava passando por uma das cidades mais movimentadas do jogo e o vi conversando com o líder de nossa guilda, e ele me chamou para me juntar a eles. A conversa continuou mais um pouco até que nosso líder teve que sair para um compromisso da vida real e nos deixou lá, sozinhos. Continuamos conversando, mas de outro tema: ele estava triste. Segundo ele, tinha visto a namorada beijando outro homem em uma balada, e aquilo o machucou bastante. Tinham terminado e ele estava sofrendo. Começava a acreditar que as mulheres não prestavam. Perguntei o motivo e ele me contou outra história, uma sobre como ele tinha feito a namorada de um amigo lhe chupar, enquanto outros amigos gravavam, para mostrar ao amigo como ela não prestava. O tiro saiu pela culatra, e o amigo preferiu virar as costas para os amigos e continuar com a namorada. Não sei que final teve essa história, mas sei o final que a minha vai ter. Falei que tinha um pouco de inveja da mulher, por ela poder ter chupado ele. O que eu queria dizer é que eu estava morrendo de vontade de fazer sexo, de perder a virgindade. Estava ficando velha e muitas das minhas amigas já tinham casado e até mesmo tido filhos. Estava me sentindo pra trás. Não era uma disputa, mas eu estava me sentindo mal por não conseguir nada na minha vida amorosa. Na minha vida amorosa da vida real, que fique bem claro. Mas ele entendeu que era sobre ele, e ficou lisonjeado. E quis fazer sexo virtual. Ele não era virgem, mas era a primeira vez que ele fazia pela internet, então pediu que eu fosse gentil. Eu, pelo contrário, tinha muita experiência no virtual e nenhuma na vida real. Nos demos bem de primeira. E começamos a ficar juntos o tempo todo. Existia uma diferença de fuso horário, pois ele morava na Alemanha, mas dávamos um jeito. Não brigávamos, não discutíamos, ele estava sempre do meu lado. Eu não precisava mais procurar conforto e satisfação em outros homens. Um dia, no entanto, o encontrei triste. Ele começou a me contar sobre o avô dele, que estava muito mal. Me contou histórias do avô dele, sobre como ele tinha lutado na segunda guerra mundial e até mesmo recebido medalhas, que depois foram tomadas dele. Lembro de como ele não acreditava em Deus, então eu, em seu lugar, rezei pra que Deus fizesse o melhor para ele, fosse curar ou poupar da dor. Não passaram muitos dias e ele me contou que o avô tinha falecido. E sumiu.
Passou quase um mês daquela forma e eu comecei a sentir falta do que ele me supria. Acabei caindo na besteira de fazer de novo. Não passaram muitos dias depois disso e ele apareceu. Estava ansiosa e angustiada, pois por mais que ele tivesse voltado, ele não falava comigo, não me procurava. Então resolvi tomar a dianteira e perguntar como ficaríamos. Não ficaríamos, foi a resposta dele. Perguntei o que tinha feito de errado e ele disse que não tinha feito nada de errado. Não era uma questão de certo ou errado, e sim uma questão de fim. "Algumas coisas chegam ao fim", ele disse, "e nós era uma delas". Aquelas palavras atingiram em cheio alguma coisa aqui dentro de mim. Doeu. Chorei muito. Falava sem parar. Queria entender.
Foi em um desses episódios de falar para por pra fora que minha amiga me perguntou se eu estava prestando atenção no que eu estava dizendo. Nunca fui uma pessoa de pensar antes de falar, muito menos de perceber o que estava falando, então, quando ela perguntou, eu respondi com toda a sinceridade que não, não tinha prestado atençã no que tinha dito. Nem fazia ideia do que tinha acabado de falar. E ela me disse pra passar a prestar, pois eu mesma tinha dado a resposta para meus problemas. Tive que insistir com ela um pouco sobre como realmente não lembrava do que tinha dito para que ela fizesse o favor de repetir, da forma dela, o que eu tinha dito que supostamente resolveria meus problemas. Eu tinha vivido por muito tempo pulando de galho em galho, muitas vezes em mais de um galho ao mesmo tempo, e naquele momento, que tinha realmente encontrado alguém que fazia a diferença na minha vida, não estava mais com vontade de pular pro próximo galho, pois queria continuar pra sempre com aquele.
Ali foi um divisor de águas na minha vida. Acredito com todas as minhas forças que as pessoas que passam pela nossa vida não passam simplesmente por passar. Não, elas deixam algo delas em nós, e nós com certeza deixamos algo de nós nelas. Naquele dia, meu lado que sentia necessidade de estar sempre gostando de alguém, sempre pulando em galhos, levou um tombo, pois tinha resolvido se agarrar a um galho que tinha se partido, sem estar se segurando em nenhum outro. Eu caí, e essa queda me trouxe de volta pra realidade. Literalmente.
Parei de jogar aquele jogo. Parei de procurar pessoas para satisfazer meu apetite. Passei a gostar de apenas uma pessoa por vez. Não era do tipo que esperava muito pra me confessar, pois estava lidando com a vida real, e na vida real eu sou apenas uma gordinha normal. Ninguém gostava de mim da mesma forma. Eu sou uma pessoa maravilhosa demais para se ter como amiga, então os homens não queriam arriscar perder isso para ter algo a mais. Era triste, mas era como funcionava, e eu estava acostumada com isso. Aquela parte de mim morreu, e estou honestamente feliz com isso. É um lado de mim de que não me orgulho, mas que fui eu, e não posso fechar os olhos ou fingir que não aconteceu. Fico feliz de ter passado. Fico feliz que hoje sou uma pessoa fiel. Só me falta uma pessoa que esteja realmente disposta a viver pro resto da vida comigo. Infelizmente essa não é uma opção para os homens modernos, mas é um sonho que tenho, e se não posso me agarrar a um galho, me agarrarei a esse sonho. Até que se torne realidade.

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