sábado, 14 de abril de 2018

O que você vai ser quando crescer?

Quando eu era pequena, bem pequena, eu não fazia noção das responsabilidades que é ser um adulto. Meu dia se resumia a decidir como gastar as várias horas do meu dia brincando com meu irmão. Houveram momentos em que as brincadeiras deram errado, tipo quando nós resolvemos abrir a secretária eletrônica para fuçar nos seus componentes elétricos, que, na época, pareciam balinhas duras fixadas numa placa por cabinhos de arame. Pelo menos eu sabia o que era arame. E várias coisas mecânicas, já que meu pai trabalhava em uma firma como soldador. Ele tem um torno que é um dos meus orgulhos. Eu trabalharia com ele se eu tivesse um pouco mais de noção do que eu estou fazendo. Não acho que o torno ou os componentes eletrônicos me influenciaram a fazer o curso no Senai, não, mas foi divertido entender cada uma daquelas coisas quando estudei lá. No entanto, eu sabia muito bem que nunca trabalharia na área. Eu tenho medo de altura e não queria subir em escadas. É simples assim.
Uma coisa que eu e meu irmão fazíamos quando éramos pequenos era criar slogans para marcas que nós mesmos pensamos. Por exemplo, o guaraná atitude. Não fique na dúvida, tome uma atitude! Fala a verdade, seria a melhor marca e o melhor slogan para qualquer tipo de bebida! Quando éramos pequenos existiam comerciais como o das televisões de 21 polegadas, que eram novidade, “é um pé no saco, pequeno 14”. O pequeno 14 era a tv de 14 polegadas. Também tinha o comercial do pálio weekend, com peixinhos que cantavam e, no final do comercial, quando o carro ia embora, o peixinho chorava. Ou o comercial de uma faculdade que usava a música Carmina Burana, que a gente só ficou sabendo o nome graças à invenção da internet e da faculdade ter uma área de contato, na qual a gente foi e perguntou qual era o nome da música que tocava no comercial. Você pensa que eles não iriam responder, mas eles responderam! Mas quando você pensa em se especializar, de fato, nessa área, você começa a ouvir das pessoas que você precisa de contatos. E a verdade é que uma pessoa isolada no mundo como eu era não tinha contato nenhum. Eu falharia antes mesmo de começar. Me disseram uma vez que você faz os contatos lá dentro, mas eu tenho um sério problema com pessoas. Um problema que, provavelmente eu fale no próximo post. Por enquanto, vamos voltar a esse post. Virar uma pessoa que faz propagandas estava fora de questão.
Eu queria cantar, mas cantar não posso, pois minha voz é muito infantil, muito aguda e eu duvido que alguém pagaria pra me ouvir cantar. Hoje em dia existem karaokes e eu os evito com todas as minhas forças, apesar de gostar de cantarolar as músicas dos backstreet boys até hoje quando eu escuto uma. Ou algumas várias músicas que escuto além das deles. Verdade seja dita, eu gosto de cantarolar, mas morro de vergonha de ser ouvida. Então, existem aquelas pessoas que querem ter cargos públicos de alto escalão. No meu caso, eu queria ser professora. E existe uma história por traz disso.
Não sei se já mencionei aqui em algum momento, mas minha mãe era professora. Daquelas professoras que nasceram com “professora” estampado na testa. Ela tinha que ser professora, era o destino dela. Um dia, estávamos indo no Paes Mendonça, hoje em dia Extra, lá da marginal tietê, na volta da casa da minha avó. Quando passamos pela guarita o guarda olhou pra minha mãe e disse “eu te conheço de algum lugar”, mas ela não deu atenção e entrou com o carro, estacionou e entrou no mercado. Eu junto. E não é que o guarda foi atrás dela lá dentro do mercado? Ele nos encontrou e parou minha mãe, disse pra ela que ele tinha sido aluno dela, que na época ele tinha chegado do nordeste e não tinha a menor vontade de estudar, mas que ela pegou tanto no pé dele pra que ele estudasse que ele acabou estudando, se formando e que, naquele dia, ele era chefe da segurança daquele mercado. E ele agradeceu e dava pra ver que era legítimo. E eu lembro de ter pensado que eu queria, pelo menos uma vez na vida, sentir aquele sentimento.
Depois daquilo fiz vários cursos. Inglês, informática, gestão empresarial, desenho e animação… até massagem. Massagem era algo que eu fazia muito pra minha mãe e ela me dizia que eu devia fazer um curso e ser massagista. Ela também me disse pra ser cuidadora de idosos, pois os velhinhos costumam gostar de mim, mas verdade seja dita, eu ficaria triste de ver um velhinho morrer e, por esse motivo, ter que arrumar outro emprego. Acabou que me tornei funcionária do IBGE e hoje trabalho no cargo de agente de pesquisa e mapeamento. Tenho uma ex chefe que era um pesadelo e, hoje, é uma pessoa normal com quem eu consigo conversar. Tenho um chefe que era uma das pessoas que eu mais admirava e respeitava mas que, hoje, eu fico me segurando pra não falar tudo que penso, ou poderia ser mandada embora. Não que falte muito tempo pra meu contrato acabar, mas fico me perguntando se tudo que eu estou sentindo não é coisa da minha cabeça. Coisa de momento já que, dos 8 colegas de trabalho que tenho, consigo ter um relacionamento saudável com apenas 3 deles. Tudo bem que uma das pessoas com quem eu supostamente não me dou bem saiu ontem. Passou em um outro concurso e foi assumir. Bom pra ele. Meu medo é que a pessoa que entrar no lugar dele se junto às pessoas de lá do fundo, o “grupo dos top”, como eu costumo dizer, ironicamente, já que existe alguém que gosta muito de falar a palavra “top” lá. No entanto, por outro lado, também existe uma pessoa do nosso grupinho que também vai sair. E que a pessoa que entrar no lugar dela também se junte ao grupo dos top. No fim, vamos ficar cada vez mais deixados de lado. O preferencialismo é algo que existe no IBGE, vindo de uma das pessoas que mais reclamava de quando isso existia na antiga chefia. Quem te viu, quem te vê.
Eu passei em um concurso pra ser porteira. Não é o sonho da minha vida, mas não vou ficar desempregada. Quando me perguntam hoje o que eu quero da vida, eu penso que a única coisa que eu realmente sei que quero é viver. É simples, chega a ser medíocre, mas é o que eu quero. Claro que quero melhorar minhas condições, mas acho que não adianta me apressar nesse momento. As coisas vão funcionar, eu tenho que acreditar nisso, pois ninguém vai acreditar por mim.

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