sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Árvore Dourada

Capítulo 1: A Batuta que Rege o Mundo
Dizem que, há muito tempo, houve uma mulher chamada Aurora e seu pajem, Cratos, que viviam compondo músicas e melodias em um céu infinito, cheio de estrelas. Foram felizes assim por muito tempo, até que Aurora começou a se sentir solitária por não ter ninguém além de Cratos para ouvir sua música. Percebendo que algo incomodava sua mestra, Cratos pôs-se a pensar em um modo de animá-la e, utilizando as fagulhas de uma estrela, criou um monte de terra que moldou com as mãos para que se tornasse lisa e redonda. Nesse pedaço de terra criou variadas criaturas e chamou por Aurora para que ela pudesse tocar para eles. Aurora ficou maravilhada e tocou sua música para os animais que ali estavam com todo seu coração. Mas os animais estavam muito agitados com a vida que tinham acabado de receber e não demorou muito até que se dispersassem. Cratos então criou árvores e vegetação, que responderam à música criando o vento, que agradeceu fazendo as folhas das árvores farfalharem e acompanharem a música. Aurora ficou feliz e decidiu que também iria criar algo naquele pedaço de terra. Começou a mover a terra, formando buracos e montes, então encheu os buracos com água e cantou para ela, que respondeu criando vida dentro de si. Enquanto isso, Cratos moldou os montes de terra e criou montanhas, que também escutaram a canção de Aurora e responderam criando dragões, criaturas gigantescas e fortes que voaram pelo céu e se espalharam pelo mundo. Aurora ficou feliz e achou que aquilo era bom. Decidiu viver por ali e criar mais coisas que pudessem apreciar sua música.
Com o tempo, a água começou a aumentar e se espalhar, criando oceanos e rios. O vento se encontrou com as montanhas e fez com que as fagulhas de estrela se juntassem, criando uma grande bola de luz que foi colocada a uma distância segura daquele mundo por Cratos. A luz refletia no vento e tingia o céu de uma cor clara e bonita, de forma que Cratos e Aurora não podiam ver as estrelas. Então Aurora mandou que a terra girasse em torno de si mesma, para que pudessem continuar a ver a luz do dia e a luz das estrelas.
Tudo ia bem até que os animais começaram a se reproduzir. Cratos, que já nutria sentimentos por Aurora, decidiu tentar transmiti-los da mesma forma que os animais estavam fazendo. Naquele dia, enquanto ela cantava para as águas, ele a tomou em seus braços e a possuiu. As lágrimas dela que caíram na terra criaram os primeiros humanos e as que caíram na água criaram os sereianos. Cratos estava feliz por finalmente ter demonstrado seus sentimentos, mas se sentiu culpado ao vê-la chorar e voltou para seu antigo lugar entre as estrelas. Aurora continuou vivendo na terra, sem saber o que sentia por Cratos. Assim foi até que seu filho nascesse. Deu a ele o nome de Thirar, o entregou aos humanos e, tendo percebido seus sentimentos por Cratos, voltou para as estrelas para ficar junto dele. A criança cresceu e se tornou rei daquele mundo, dando a ele seu próprio nome. Sua vida foi mais longa que a de qualquer humano e seus descendentes formaram o que mais tarde seria conhecido como o povo ancião.
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Neste mundo, onde tantas criaturas mágicas vivem, espalhou-se uma lenda sobre uma árvore dourada que, segundo alguns dizem, foi plantada pela própria Aurora como agradecimento às árvores e aos vegetais por terem sido os primeiros a apreciarem sua música. Esta árvore em particular nunca perdia suas folhas, dava frutos em intervalos de tempo de aproximadamente quinhentos anos e guardava os segredos da vida. Seu fruto era carnudo e suculento, grande o suficiente para alimentar duas pessoas e não possuía caroços nem apodrecia. Apenas descendentes de Cratos e Aurora podiam tirar qualquer coisa que fosse daquela árvore. Por isso, o povo ancião viveu por muitos anos aos pés daquela árvore, cuidando e protegendo-a de invasores.
Os anos se passavam e cada vez mais o mundo se via mergulhado na guerra e no caos. Os povos não conseguiam viver em paz, os dragões que antes viviam apenas nas montanhas passaram a atacar vilas e vilarejos, por vezes destruindo reinos inteiros. Temendo ataques à árvore o povo ancião colheu os três frutos que ela havia produzido, conjuraram um encantamento de proteção nela e partiram sem olhar para trás. Decidiram plantar, enquanto caminhavam, os frutos para que algum dia outras árvores nascessem e outras pessoas pudessem encontrá-las. Então, de tempos em tempos, um dos anciões cuidadosamente punha sob o solo um dos três frutos, sempre na mesma hora. Uma foi plantada perto de um riacho por onde eles estavam passando e a ela foi dado o significado do fluir da vida, por esta estar sempre seguindo um rumo certo, mas que por nós não é conhecido. A segunda foi deixada no meio de uma floresta, onde uma ave fênix estava construindo ninho. Decidiram que representaria então o nascimento, lembrando a capacidade desta ave de sempre renascer de suas cinzas. A última, por sua vez, foi plantada beirando um caminho de pedras negras como uma noite sem estrelas. Para esta foi dado o significado da morte, já que as pedras não contêm nenhum resquício de vida e já que atribuíam à cor preta o luto e o vazio. Aquelas árvores, diferentemente de sua geradora, produziam frutos todos os anos. Estes podiam ser colhidos por qualquer pessoa e apodreciam depois de um tempo. Quando vez ou outra alguém encontrava a árvore e tentava arrancar uma das suas folhas ao invés de tentar se alimentar de um de seus frutos, como mágica, elas perdiam seu brilho dourado e se tornavam opacas, se desmanchando no ar antes mesmo que a pessoa pudesse se afastar muito.
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Era uma época difícil. As guerras continuavam entre alguns reinos e mesmo entre aqueles que não participavam das batalhas havia certa hostilidade. Alguns dragões ainda voavam pelo céu, trazendo medo aos que só haviam ouvido falar seus feitos e dor aos que tinham sido vítimas de algum ataque. É no meio desta era turbulenta que a história do reino de Fleurish se entremeia à lenda das árvores douradas.
Após um ataque de um dragão o reino de Fleurish perecera. Os poucos sobreviventes tiveram que se refugiar aos pés da montanha que antes lhes abrigava e ver, de longe, as labaredas de fogo tragar o belo castelo onde viviam. O rei na época, Lucius, resolveu que seria bom que refizessem o castelo em uma das planícies que havia não muito longe dali. Não queria que seu povo sofresse com o rigoroso inverno que estava se aproximando. E assim foi feito.
Construíram um reino bem menor, mas ainda assim suficientemente grande para abrigar todos que haviam sobrevivido. Passado o inverno o rei decidiu fazer um reconhecimento pelas redondezas, procurar os reinos vizinhos e avaliar se haveriam possibilidades de estabelecer um novo reino ali ou se deveriam procurar outro lugar. Foi em uma de suas cavalgadas que encontrou uma das árvores por acaso e ficou maravilhado. Achou que seria uma boa idéia se utilizasse as folhas douradas para selar um acordo de paz entre os reinos, então se ajoelhou e sussurrou para a árvore, como que numa prece. Dez folhas se desprenderam de sua copa e foram pousar suavemente ao redor do rei. Quando ele as recolheu elas não se tornaram opacas, nem se desmancharam no ar. Naquele mesmo dia ele começou uma peregrinação pelos feudos, entregando para cada rei ou rainha uma folha dourada como selo de um acordo de paz. Quando era indagado sobre a origem das folhas ele dizia que pertenciam a uma árvore mágica, mas pouco se acreditava no que ele dizia. A Fleurish daquela época era muito conhecida por seus maravilhosos artigos, feitos em ouro, logo achavam que as folhas haviam sido feitas por algum artesão. Mas eram lindas e brilhantes, macias e leves. Devia ter dado algum trabalho para sua confecção, pensavam, logo aceitavam de bom grado. E não era uma má idéia aceitar um tratado de paz naqueles termos.
De volta a Fleurish pensou que poderia enriquecer seu reino novamente se conseguisse mais folhas, mas mesmo tendo seguido a risca todo o caminho feito na primeira vez, por mais que tentasse não conseguia encontrar a árvore. Tudo poderia se passar por um sonho se não fosse pela folha dourada estar ao alcance de sua mão para confirmar que realmente tinha acontecido.
Alguns reis de algumas nações mais antigas que conheciam melhor a lenda das árvores douradas acreditaram na versão da árvore mágica que o rei Lucius contara e iniciaram jornadas para que se encontrasse pelo menos uma das árvores. Os cem anos seguintes seriam marcados não por guerras, mas por buscas secretas e infindáveis às árvores, um período conhecido como a caçada ao ouro verde. Sem sucesso, com o passar dos anos a existência delas foi desacreditada, sendo passada às gerações seguintes novamente como uma lenda. Os anos foram divididos em dois períodos, o anterior ao tratado de paz que seria conhecido como a era de Cratos e o período pós-guerra, a era de Aurora.

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