sábado, 13 de maio de 2017

A Criança Perdida

Essa semana quando fui pro curso de terça e estava saindo da aula, encontrei a Liliane e, enquanto ela me levava até o lugar em que estava trabalhando naquele dia, vi a filha dela correndo em minha direção com os braços abertos. E isso me lembrou como eu era quando era criança. Na verdade, eu demorei bastante pra amadurecer, tanto que até os 14 anos eu ainda agia como uma. É só lembrar de como eu corria feliz até as pessoas para alcançá-las e dizer oi. Ou como eu abanava a mão no alto para que uma pessoa que eu conhecia me visse do outro lado da rua. Ou como eu não sabia o que era masturbação, nem várias coisas relacionadas ao sexo, mesmo com várias garotas ao meu redor ficando grávidas e tendo filhos. Lembro como eu me choquei quando a pessoa grávida foi uma das minhas amigas próximas e como ela me disse para eu não fazer “aquela cara” (de espanto no caso).
Essa semana também aconteceram várias coisas que me fizeram pensar em como as pessoas ao meu redor também são. Crianças no caso. Mas eu não tenho coragem de dizer isso em voz alta, pois me faz lembrar do Fabrício e de como ele me disse que era “uma criança” e se eu realmente sentia “o que dizia sentir” por ele. É como se a idade fosse uma barreira. E é, eu passei a ver como uma barreira depois daquilo. Uma coisa é você ter 18 anos e gostar de um garoto de 14, outra é ter 31 e gostar de um garoto de menos de 20 anos. “Idade é um número”. Queria eu que fosse só isso mesmo.
Sempre fui da opinião que não gosto muito de bebês. As pessoas olham pra eles e acham eles fofos, mas eu só consigo ver o choro e a incapacidade de falar para me comunicar o que está doendo para ele estar fazendo aquele berreiro. Ao contrário, as pessoas reclamam de crianças, pois elas correm, falam, fazem birra e ainda choram. Eu prefiro assim, pelo menos posso perguntar o motivo do choro, correr atrás e ainda consigo pegar no colo. E não é como se correr atrás de uma criança fosse tão difícil assim, convenhamos. Nossas pernas são bem maiores que as deles. E eles têm aquela inocência que nos falta.
Não é que não exista a inocência nos adultos. Existe, mas não é nem um pouco comparável à das crianças. Se eu pudesse, protegeria essa inocência até onde me fosse possível. Mas nos dias de hoje, não é tão fácil. Quando penso nisso, lembro daquela menina e de como mataram a inocência dela. E do que ela se tornou. E de como eu ainda não consigo aceitar que tudo isso está acontecendo. Foi por esse e outros motivos que decidi cortar laços definitivamente, tanto com ela quanto com a pessoa que a ama. Não adianta que eu me preocupe, não adianta que eu queira ajudar, não adianta que eu tente colocar nada de bom ali, pois nada de bom vai sair dali caso eu adicione algo. E não quero levar patadas. Mais patadas do que já levei. Existem limites. Mas isso aqui continuará em outro post. Este é sobre a criança dentro de nós.
No fim das contas, acho que um dos motivos que gosto dessas crianças é por elas terem uma inocência que não encontro mais dentro de mim. Por sentir falta dela. Por ver neles algo que eu ainda queria ter. Mesmo que nos dias de hoje seja muito mais difícil preservar esses sentimentos bons que eles têm, quero fazer tudo que estiver ao meu alcance para manter isso. Pois isso era tudo que eu tinha, e agora está perdido. Amanhã é dia das mães, e a minha não está aqui para me dar o abraço que a criança dentro de mim precisa. Aos poucos, sinto que essa criança vai morrer, pois não existe mais a fonte que a alimentava. Está na hora de crescer. De abraçar a vida adulta. De ter responsabilidades. Goodbye my friend.

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