sábado, 23 de julho de 2016

Vendo a Vida Passar

Muitas são as pessoas que costumam ficar bravas comigo quando digo que minha vida eu não vivo, eu vejo passar. É uma sensação real, como quando eu dizia que conseguia sentir que eu iria morrer velha e sozinha. É apenas um sentimento, mas aquela sensação, quando vinha até mim, era tão real quanto a dor de, por exemplo, um beliscão. Só que doía muito mais, pois doía na alma, não na pele.
Minha mãe morreu. O velório, a cerimônia de cremação e a cerimônia de entrega das cinzas foram todos maravilhosos. É quase o fim de um ciclo. Minha mãe viveu plenamente. E eu sinto do fundo da minha alma que fiz tudo que podia fazer por ela. E agora, sinto essa sensação de liberdade. É uma coisa nova com a qual não sei lidar. Pela primeira vez a vida está olhando pra mim e dizendo "venha". Seus olhos me dizem que ela esteve esperando este momento para me estender a mão. É como se minha vida estivesse o tempo todo ao meu lado, coberta com aquela capa da invisibilidade do Harry Potter, e agora a capa foi arrastada pra longe por um vento bem forte que abalou nós duas. E agora ela quer que andemos de mãos dadas. É uma sensação boa. Mas o medo ainda está aqui.
Medo. Posso dizer com certeza que esse é o maior dos obstáculos pra que eu e minha vida possamos realmente seguir adiante. Tenho medo de errar. Tenho medo de arriscar. Tenho medo de perder. E com todos os medos que tenho se aglomerando em minha mente, continuo estática. Esperando. Não significa que vai ser assim pra sempre, até porque eu não quero que seja assim pra sempre. Tenho o apoio de muita gente. Tenho do apoio daquela pessoa que me é especial também. Supostamente, tenho tudo pra fazer com que as coisas deem certo.
Ontem tive uma conversa com ele. E hoje, quando acordei, percebi que apesar de eu sempre ter me forçado a não criar esperanças nem expectativas, desde que minha mãe morreu estou vivendo delas. A expectativa de que isso ou aquilo possam acontecer. Foi triste perceber isso. É mais triste ainda pensar que ele teve que passar por aquele conversa. Sempre é muito difícil pra nós dois e eu realmente tento não colocar ele em uma posição difícil, mas sempre acabo precisando por alguma coisa pra fora. Devo confessar no entanto que essa última conversa pode ter sido um ponto final. Alguém já te perguntou qual a diferença de um ponto e um ponto final? Você sabe a diferença entre um ponto e um ponto final? A diferença é tão simples que lembro ter ficado chocada de não ter entendido sozinha até me explicarem. Um ponto coloca fim a uma frase para que outra venha logo em seguida. O ponto final te diz "vá para a outra linha, não tem mais nada a ser adicionado aqui". Foi triste. Foi dolorido. Eu chorei, como de costume. Sei como ele não gosta de me ver chorando. Sei como ele não gosta de falar sobre isso. Segundo ele o motivo dele não gostar é exatamente por eu ficar com a voz embargada e começar a chorar. Acho que ele não entende que eu fico assim por saber q é difícil pra ele ouvir, e q me dói saber que estou fazendo mal a ele por ter que dizer essas coisas. Nesse momento, isso não importa. Importa que acho que realmente terei que seguir em frente. Sem ele. Acho que ele gostaria disso. Eu sou um fardo muito pesado.
A vida está do meu lado dessa vez. Por enquanto, vamos andar juntas. Eu sei que ela está comigo agora.. Eu sei que quando precisar usá-la, ela não vai correr. Ela não vai se esconder. Somos cúmplices. Me foi dado o direito de viver. Me foi dado o direito de sentir com todas as forças que tenho. Isso provavelmente será uma merda, mas vai ser uma experiência emocionante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário