sábado, 27 de agosto de 2016

"Forte"

Eu queria mas acabei não postando a respeito dos últimos problemas que entraram na minha vida como uma enxurrada. O tempo passou e acho que agora estou mais preparada pra falar a respeito. Então, vou começar do início.
Eu falei como tudo deu errado no dia 13. E como resolvi dar espaço pra ele. O que aconteceu depois disso foi eu me forçando a não falar com ele pelo facebook, já que achei que isso de alguma forma contribuía pra ele pensar que eu trato ele diferente das outras pessoas. E agora estou me policiando pra tentar não interromper as pessoas quando elas falam. E aqui, abro um parênteses. É impressionante como ele me conhece há tão pouco tempo (em relação a maioria das pessoas que me conhecem) e percebe tantas coisas a meu respeito. Acredito que seja a convivência, de certa forma passo mais tempo com eles que com a maioria das outras pessoas. Mas ele realmente aponta certas características em mim que eu não perceberia se ele não falasse. Não por elas não estarem presentes em mim, não. Apenas por serem características que as pessoas, se percebem, não reclamam. Nem comentam. Nem mencionam. E aos poucos vou ficando com a impressão que ele me conhece melhor do que tanta gente... que é triste. Falei pra ele que estou dando espaço pra ele, que é a única coisa que posso fazer por ele. Mas quando digo isso me lembro de uma das coisas que ele disse na última vez: você nunca pergunta o que é melhor pra mim. E eu me pergunto se, caso eu perguntasse, se ele me diria. Tenho a impressão que não. E quando penso mais fundo ainda, lembro daquele fatídico dia em que perguntei se ele preferia que eu não gostasse dele e ele respondeu que sim. Pra todo lado que eu olho, acabo sempre chegando na mesma conclusão: eu preciso mesmo dar espaço pra ele.
Na contramão desses acontecimentos o Gilson me disse que não me vê como uma pessoa grudenta, nem como se eu pudesse sufocar alguém, que sempre achou que eu sou uma pessoa de que seria difícil se cansar. Fiquei feliz de ter ouvido essas palavras.
Mas problemas, quando chegam, nunca vêm sozinhos. E nessa quarta soube que o labrador do Giorgio morreu. Confesso, foi uma notícia triste. E eu nem pude dizer algo pra tentar consolar ele, pois não sabia quanto eu podia me aproximar dele, nem se algo que eu dissesse poderia trazer algum benefício pra ele. Na verdade acabou que o clima estava tenso. Daqueles que se corta com uma faca de manteiga. Pra completar, no fim do dia, aquele lindo garoto de olhos azuis que mora no Sul mencionou pela segunda vez a palavra suicídio. E pra fazer com que ele se sentisse melhor eu tive que me abrir pra ele, expor como a minha vida não deu nem dá certo, como perdi tanto, como tudo sempre dói, mas como eu continuo vivendo. A vida é assim mesmo, quebra a todos. Cabe a nós continuarmos, com ou sem os cacos. Ele disse que eu sou forte e que, se ele fosse tão forte como eu, que provavelmente não estaria mais nesse mundo. Eu disse que não adianta ser forte se não se tem coragem.
No dia seguinte, Inco falou comigo de manhã, o que por si só é um fato raro. E falei pra ele das minhas preocupações com certos planos que estão em desenvolvimento na cabeça dele. E de brincadeira ele disse "aí você me leva comida quando for me visitar", pro que eu só consegui formular uma resposta: "não será a comida da minha mãe, mas levo sim". Pronto. Foi o suficiente pra fazer com que o ânimo de ambos desmoronasse. E mais uma vez fui chamada de forte. Confesso que cheguei na agência e, depois de um tempo esperando a maioria das pessoas chegar, saí pra fora e comecei a chorar. Muito. Esperei passar antes de voltar pra dentro e me trancar no banheiro pra lavar o rosto. E nesse mesmo dia tive que ouvir do Carlão que um dos motivos que o Giorgio não me aceita é pelo cheiro de cachorro. Mais uma vez, eu sei... Não é como se eu pudesse fazer algo imediato pelos meus cães... Um amigo me aconselhou a usar bastante perfume, o que eu tentei fazer, mas honestamente não sei se funcionou, porque meu olfato é o mais pobre dos meus sentidos.
Pra terminar a semana, sexta-feira recebi cócegas. Foi pouco, de um lado só, mas já me deixou toda ouriçada. E aí lembrei da carta da semana que saiu do André Mantovanni. A carta do Diabo. "Cuidado com as paixões". E fico feliz, mas me segurando pra não pensar mais do que devo disso. Afinal, o espaço ainda está lá. E pretendo que continue assim, pois parece que é bom tanto pra mim quanto pra ele. Outro fato foi o convite pra conhecer o novo lar dele, mas acabou que não rolou. Fico com vontade de ir, mas fico imaginando se não acabaria sendo, mais uma vez, um incomodo. Tenho pensado muito isso ultimamente, até mesmo quando estávamos bebendo e os dois estavam silenciosos. Não acredito do fundo do coração que o problema fosse eu, mas torci muito pro tempo passar logo pra que eu tivesse que ir fazer a entrevista marcada pras 19 horas ao invés de ficar ali com os dois, sem assunto.
Percebi que me é difícil entrar no quarto da minha mãe, que hoje é o quarto do meu pai. Antes eu chegava e me enfiava naquele quarto pra contar pra ela como tinha sido meu dia. Hoje evito entrar naquele quarto como se minha vida dependesse disso. "Forte", eles dizem. Não sou nem metade da pessoa que eu gostaria de ser.

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