Na última semana quis postar sobre ele mas outros assuntos se puseram na frente. Outros assuntos que eu precisava falar com mais urgência. Neste momento, por mais que tenham assuntos que estejam me incomodando mais que esse, foi esse o assunto que escolhi pra abordar. Acho que já passou da hora de eu falar sobre meu Alemão.
Não sei até que ponto é conhecido para meus leitores o fato de que eu passei muito tempo da minha vida jogando Ragnarok. O jogo era simples, divertido e viciante, logo não era difícil eu escolher ficar em casa jogando ao invés de sair e ir até aquela escola onde eu supostamente devia ir pra fazer meu estágio e terminar minha faculdade. Esse também é um assunto pra outro dia, voltemos para o assunto em mãos. Houveram muitas pessoas no Ragnarok, muitas mesmo. Eu era da classe dancer, ou odalisca, ou sei lá como era o nome dessa classe aqui no servidor brasileiro. Transclasse, gypsy. Era minha paixão, aquela personagem e meus chapéus. Certa vez meu amigo Henri falou que eu nunca devia me casar no jogo, pois sempre haveria alguém que ficaria com ciumes, magoado, chateado, querendo se vingar. Mas eu nunca estava sozinha naquele jogo. E o alemão entrou na minha vida através dele.
Prontera era a cidade principal do jogo e eu estava por lá, não lembro fazendo o que, até que encontrei dois companheiros de guild conversando. Me juntei a eles e ouvi suas histórias. Um deles teve que sair e continuei lá, conversando com o que sobrou. O alemão. Seu nick era Fizzle e ele era um Blacksmith. Ou ferreiro caso prefiram. Ele estava desanimado por ter visto a garota dele beijando outro cara numa balada e me contou como as garotas alemãs eram promíscuas, relatando o caso da namorada de um amigo dele que tinha feito um boquete nele. E sido gravada pelos outros amigos, que usaram a gravação para mostrar para o amigo como ela não prestava. Ele largou os amigos e ficou com a namorada. Na época eu era virgem e me lembro de ter dito que tinha uma certa inveja da tal garota, o que o indignou. "Por que vc teria inveja dela?" Ele perguntou, e eu disse que era pelo fato dela ter chupado ele. E foi aí que começou. Eu tinha muita experiência com o virtual, ele tinha muita com o real. Lembro até hoje de como ele disse "É a primeira vez que faço isso, me sinto um virgem, seja gentil comigo".
Nossa relação durou 4 meses. Sim, meros 4 meses. Na época eu tinha medo de morrer velha e sozinha. Não um medo como medo de escuro ou medo de altura, não. Era uma sensação que invadia minha mente, como se naquele curto momento eu realmente fosse uma velha. Sozinha. Morrendo. Essa sensação era sempre acompanhada de muito choro e muito medo. E eu tive um desses episódios enquanto falava com ele pelo MSN Messenger, o que o assustou bastante. Contei o que se passava e ele me acalmou dizendo "você não vai morrer sozinha pois vou estar sempre do seu lado". Era mentira, pois ele nunca esteve fisicamente do meu lado. Nunca nos tocamos. Ainda assim, depois dele ter dito isso eu nunca mais senti aquela sensação.
Um dia ele me disse que o avô dele estava muito mal. Me contou um pouco da história desse avô, de como ele era cruel, de como ele havia sido um soldado na segunda guerra (e, como ele era alemão, acho que não preciso dizer de que lado ele estava), de como ele tinha ganhado várias medalhas e como teve que devolver todas elas. Meu alemão não acreditava em Deus. Eu disse que oraria pelo avô dele mesmo assim. No dia seguinte ele disse que o avô dele tinha morrido.
E sumiu.
Demorou um mês até que ele aparecesse de novo e as coisas estavam diferentes. Não nos falávamos direito e sempre que ele logava ficava com outras pessoas, nunca me procurava. Até que eu resolvi confrontar os fatos. "Como ficamos?" Foi o que eu perguntei. "Existem coisas que chegam ao fim, nós somos uma delas" foi o que ele me respondeu. Minha primeira reação foi perguntar se tinha sido algo que eu tinha feito de errado (e confesso, minha consciência estava pesada) e se tinha algo que eu podia fazer pra consertar as coisas. Ele disse que não era minha culpa, nem dele, mas que simplesmente não tinha mais como. E doeu. E eu não me conformava, reclamava para todos os meus amigos, procurava uma resposta, uma saída. Até que um dia, conversando com a Lucimar ela me perguntou "você está ouvindo o que você está falando?" Eu não estava, naquele momento, tudo que eu queria era por minha dor pra fora, então nem sabia direito o que estava falando. Ela me recomendou tentar lembrar o que eu tinha acabado de dizer, mas não consegui mesmo, então perguntei a ela o que é que eu tinha dito de tão importante. "Você sempre começava a amar outra pessoa quando uma não dava certo, mas dessa vez, você não esta conseguindo pular pra outro amor. Pela primeira vez na sua vida, você não está amando alguém." Isso me fez lembrar de uma amiga minha, Liliane, que namorou durante muito tempo e, após um rompimento doloroso e muitas lágrimas, resolveu ficar solteira por um tempo. Foi uma experiência importante pra ela e achei que eu devia me dar essa oportunidade também.
Ainda hoje lembro dele. Costumo pensar nele como o grande amor da minha vida pelo tanto que ele fez por mim. Sei que nunca mais vou encontrar ele em lugar nenhum, já me conformei com isso. Nossas vidas continuaram, a dele e a minha, e tudo que posso fazer hoje é continuar vivendo. E tentar ser feliz. E não morrer sozinha. Tenho que fazer isso por mim e por ele. Gosto de pensar que ele ficaria feliz de saber que eu continuei vivendo e tentando ser feliz. Ele não precisa saber que todas as tentativas estão dando errado, só que eu estou tentando.
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