domingo, 7 de julho de 2019

Desafio dos 30 dias - Uma carta para a pessoa que mais me influenciou

Bom dia mãe. Não tinha como essa carta ser para outra pessoa que não você.
Quando eu era pequena sempre te admirei, ao ponto de adoração. Como aquelas imagens de cachorro, sabe? "Ela me alimenta, ela me dá amor, então ela é Deus". Você fez mais que simplesmente me dar comida e amor, mas me deu uma educação e exemplos maravilhosos. Não era perfeita, mas era uma pessoa boa e gentil. Estava sempre com a cara amarrada e raramente sorria. Talvez por isso passasse uma impressão de brava, mas eu sabia melhor que isso.
Quando entrei na minha fase rebelde a gente discutia muito, muito mesmo. Eu queria sair com minhas amigas sem ter que depender do meu irmão ir junto, pq ele nunca queria. Eu queria que a gente tivesse passado por menos problemas financeiros e emocionais naquela época também, mas devo confessar que, olhando  pra trás, para aqueles dias, tenho uma noção plena de que foram graças a esses vários problemas que enfrentamos juntos que eu passei a ter mais entendimento de como o dinheiro (ou a falta dele) nos leva a dívidas e como dívidas podem se tornar grandes bolas de neve se a gente não tomar cuidado. Olha só pra mim hoje! Eu tenho um cartão de crédito. Quando meu pai soube ele olhou pra mim com cara feia, mas eu disse pra ele que estava tudo bem, que eu sei controlar meus gastos. Olho para a fatura e sei que já não posso gastar mais nada com o cartão, então espero até que algumas dívidas estejam quites pra poder fazer "dívidas novas". Se possível, gostaria de nunca ter um empréstimo na vida, pois foi vivenciando a sua dificuldade que aprendi como o dinheiro é difícil de lidar.
Mas aquele tempo passou. Entrei na faculdade um pouco depois da morte da vó. Lembro como a senhora disse que só conseguia ir em frente pq tinha os filhos pra terminar de criar. Nós nem éramos mais criancinhas, mas eu entendi que a senhora encontrou forças em nós pra continuar, e isso me fez sentir muito bem. Eu não terminei a faculdade e a senhora mesma me disse pra desistir, pois nunca me formaria pela Unicsul. Comecei a trabalhar no IBGE fazendo pesquisas e a senhora me acolheu em seus braços e me disse que eu ia conseguir, pois "é minha filha". Para algumas pessoas podia parecer uma comparação egoísta, mas para mim foi o empurrão que eu precisava. Eu consegui. Naquele ano, fui a pessoa que mais fez pesquisas no estado de São Paulo. Mas a senhora já não estava entre os vivos pra que eu pudesse compartilhar essa conquista, e eu chorei.
Foi sua morte que me fez procurar uma psicóloga pela primeira vez, e isso me ajudou a resolver vários problemas que eu não posso de forma nenhuma negar que tinha, ou que tenho. Foi sua morte que me fez perceber que eu tenho que ser forte, mais forte que nunca, pois as pessoas que ficam precisam se apoiar mutuamente, e nós nos apoiávamos em você. Eu, por outro lado, tenho que ficar cutucando os dois pra que eles se abram comigo.
Eu sinto falta da mão que a senhora me me estendia. Do abraço. Do carinho, mesmo que fosse pouco. Não existe ninguém nesse mundo que vai preencher esse vazio que a senhora me deixou. Mas continuo seguindo, com os cacos que sobraram, tentando seguir seu exemplo. E sorrindo. Sou abençoada por ter tido uma mãe como a senhora. Por ter tido uma família completa. Obrigada por tudo isso.
Saudades.

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