Desde a notícia do estupro da garota no Rio vejo muitas pessoas postando no Facebook imagens, mensagens, apoio e revolta com o que aconteceu. Felizmente ninguém esta pondo em dúvida o caráter da menina, que parece ter tido um bebê aos 13 anos. Não, isso não vem ao caso. Ao caso vem o que aconteceu com ela. Menor de idade. Estuprada por uns 30 caras. Uma barbaridade. Todo mundo viu. Mesmo quem não viu estava sabendo, afinal, só se fala nisso.
Mas nem toda agressão é assim, brutal. Nem sempre elas parecem agressões, até que você veja de perto. Até que aconteça com você. Minha amiga Lucimar me conta muito essa história de uma mulher que, quando abordada por um estuprador, levantou sua saia e, logo depois que ele baixou as calças, ela soltou a saia e saiu correndo. Também por ela eu já ouvi a história da mãe dela, que dizia preferir morrer do que ser estuprada. O ponto aqui é o dessas pessoas que pensaram em reagir. Inclusive foi um conselho a mim dado por ela, que eu pensasse nesse tipo de situação e em como eu reagiria a elas. Mas o fato de que eu não saio muito de casa faz com que eu nunca tivesse realmente pensado nessas questões. Isso tudo mudou hoje, uma segunda-feira fria e chuvosa, praticamente o ultimo dia de Maio.
Relato: um homem subiu no ônibus junto comigo, sentou-se no fundo no banco adjacente ao meu. Estava prestando atenção no meu celular até que ouvi barulhos. Olhei de canto de olho e vi movimentos bruscos do homem, sua mão dentro da calça. Pra mim, a impressão que deu é que ele estava se masturbando. Dentro do ônibus. No banco adjacente ao meu. Olhando pra mim e fazendo todo aquele barulho, quase como se ele quisesse que eu olhasse pra ele de volta. Virei meu rosto pra evitar vê-lo mesmo que fosse com a periferia da minha visão. Um amigo, quando eu estava relatando o ocorrido, ainda tentou defender o sujeito, "não estava ele mexendo no celular?", mas não acredito que exista jogo para celular que necessite que você o chacoalhe para cima e para baixo. Aquele era sim o movimento de masturbação masculina. Até eu reconheço quando vejo. Se tivesse parado por aí estava bom, mas teve mais. O sujeito levantou e se sentou no banco a frente do que ele estava. Lá ele aparecia no meu campo de visão periférico de novo. Tentei virar o rosto o máximo que dava mas não era o suficiente, lá estava ele. Pensei em pegar o celular e pedir socorro. Aquela pessoa que me é especial mora perto do ponto final do ônibus em questão, e por mais q eu não quisesse incomodá-lo, estava desesperada. Não foi preciso, porém, pois o sujeito se levantou e deu sinal. Ficou me encarando até que finalmente desceu. Dois pontos antes do ponto final, o que é relativamente pouco em distância, mas foi o suficiente pra me fazer sentir segura pra descer no ponto que eu pretendia.
Medo não foi só uma palavra, foi um sentimento. Só consigo lembrar de uma vez em que senti tanto medo em toda minha vida, mas daquela vez o motivo do medo era apenas um sonho ruim. Dessa vez não, era algo real. Algo que eu não estava preparada. Ah, se eu tivesse ouvido os conselhos da Lucimar, não estaria me sentindo tão mal neste exato momento.
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