Há muitas listas ranqueando as dores e, com certeza, quando você vê essas listas, olha pra elas se perguntando o quanto deve doer aquela dorzinha ali, que você nunca teve. Mas a verdade, meus amigos, é que nenhuma dessas dores chega perto à dor mais forte do mundo. A dor de perder uma mãe.
Podem, e é óbvio que existem muitas por aí, as pessoas que são órfãs, que nunca tiveram um contato mais próximo com suas mães, existem até aquelas pessoas que podem dizer que odiavam suas mães. Talvez para elas a perda da mãe realmente não seja a dor mais forte do mundo. Mas com certeza devem ter aquela pessoa especial em suas vidas que, quando morrer, fará falta. Tanta falta que eles vão entender o que eu estou sentindo nesse exato momento.
Sim, minha mãe morreu. Eu sempre ouvia na televisão que tal artista famoso havia morrido de pneumonia. Ouvia isso e ficava revoltada. Como pode alguém morrer de pneumonia? Pneumonia pra mim era um tipo de gripe mais forte, mal cuidada. Neste momento minha opinião mudou drasticamente. Se morre de pneumonia sim, principalmente quando se chega a uma certa idade. A culpa ainda é de ser mal cuidada. Ainda estou me culpando por ter ficado gripada primeiro, mesmo que meu amigo Fabrício tenha dito que o tipo de gripe que causa pneumonia seja diferente. Ainda estou me sentindo culpada por não ter forçado a internação dela antes. Ainda estou me culpando por ter começado a trabalhar e deixado de cuidar dela como eu fazia. Ainda estou me culpando por saber que ela sempre teve problemas com ar-condicionado mas por nunca ter relacionado isso a pulmões fracos. Culpa, culpa, culpa. Se toda a culpa que existe dentro de mim fosse esvaziada, cobriria o mundo. Talvez não tanto, mas a sensação é essa.
Hoje posso dizer que ela ficou internada quase um mês. Que não contei para ninguém da minha família, pois achei que a reação deles seria péssima. Que eu realmente tive esperanças, até o último segundo, de que os médicos iriam operar um milagre. Mas médicos são médicos, não deuses. Deus, ou o destino, ou como quiserem chamar, foi muito bom comigo ontem. As pessoas estavam nos lugares certos, nas horas certas. Quando meu pai me ligou perguntando pelo documento dela eu estava no trabalho e pedi para que ele viesse buscar o documento comigo, e assim decidi que iria com ele. Ele está muito abatido, não queria deixar ele sozinho. E quando a Renilda colocou a mão no meu ombro e perguntou se eu estava bem, eu desmoronei. Ali mesmo, no meio do trabalho. Mas tudo bem, pois só tinham 3 pessoas ali além de mim, e não me senti tão mal assim de chorar na frente delas. Depois de receber a noticia, tive que ligar pro meu irmão. E depois tivemos que escolher uma muda de roupas. E ir até a funerária. Minha mãe nunca tinha conversado com meu pai sobre como e onde queria ser enterrada, no entanto era uma informação comum tanto para mim quanto para meu irmão: ela queria ser cremada, e que suas cinzas fossem dispostas em cima do túmulo do meu avô. Só na funerária nos foi dada a informação de que precisávamos de duas assinaturas médicas pra que ela pudesse ser cremada. Nessa altura a Lucimar já estava comigo, e os procedimentos estavam sendo suaves. Eu chorei quando tive que escolher as frases das coroas de flores. E chorei quando tive que ler a causa da morte de novo, quando lia os dados do documento. Mas a parte mais difícil foi o reconhecimento do corpo. Quis poupar meu pai disso. E só podia entrar uma pessoa.
O apoio que se recebe nessas horas é enorme, é verdade. No entanto, ainda dói. Me pego chorando hora sim, outra também. Meus olhos estão ardendo e minha cabeça parece que vai explodir. A última vez que a vi consciente (realmente consciente) foi no final do mês passado, dia 29. A última vez que tive uma interação decente com ela foi quando ela segurou minha mão com força, quando ainda estava meio sedada, há talvez pouco menos de uma semana atrás. Hoje vai ser a última vez que vou ver minha progenitora. Hoje vai ser a hora do Adeus. Hoje que não é hoje, pois esse post será feito no sábado e estou escrevendo isso na quinta-feira de manhã. Talvez esse não seja o ultimo post que eu faça dela. Provavelmente eu ainda vá chorar muito pensando nela. Mas ela nunca permitiria que eu desistisse. "O mundo não está preparado pra você", ela dizia. "Você consegue, você é minha filha", ela dizia. Vou honrar essas palavras até o fim. Minha mãe agora descansa de uma vida sofrida. Resta a nós, que ficamos, seguir em frente. Continuar. Permanecer. Mas essa dor? Essa dor permanecerá comigo, pra me lembrar de quem ela foi, de quem ela é e de quem ela sempre será. Minha mãe.
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