quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Capítulo 5 - Despedidas e Reencontros

Esse é o último capítulo dessa Fanfic. No final das contas vários dos sentimentos que eu queria passar não foram passados, no entanto estou feliz com o resultado. Espero que tenham gostado do que leram até agora.

Capítulo 5 - Despedidas e Reencontros

"Lembre-se que você não deve se apaixonar novamente. Isso quebraria o encanto que lancei sobre você e a dor seria inevitável."
Essas foram as palavras da bruxa. E Alisa as guardou fortemente em sua mente e em seu coração. Foi com grande alivio que ela não o viu no porto para se despedir dela e do padre Nathan quando os dois partiam para o lugar onde haviam sido relocados. A bruxa também não estava lá mas ela podia entender o porque, ela nunca daria o braço a torcer de que sentiria saudades.
"Mas eu provavelmente sentirei falta dela," foi o que Alisa pensou. De todas as pessoas que havia conhecido nas ilhas, a bruxa havia sido, sem dúvida, sua melhor amiga. Era cruel, é verdade, mas não significava que não se importasse com nada, e Alisa entendeu isso quando ela aceitou seu último pedido.

Bluebell era um pequeno vilarejo focado na criação de animais de todos os tipos. Não era difícil encontrar vacas pastando, ovelhas sendo tosadas e cavalos correndo dentro de fazendas. Nathan e Alisa descobriram que a igreja onde ficariam era maior que a antiga igreja onde viviam nas ilhas, no entanto era bem menos decorada. Alisa teve que se segurar para não rir quando ouviu o padre Nathan reclamar de não ter pensado em trazer a estatua da deusa das ilhas para aquele vilarejo.
"Esta tudo bem, não esta?" Ela retrucou. "Tenho certeza que aquela estatua sempre fará com que as pessoas da ilha se lembrem de que estivemos por lá," ela disse com um sorriso.

Alisa descobriu que em Bluebell as pessoas não eram muito religiosas. Descobriu que costumava haver um túnel que ligava aquele vilarejo ao vilarejo vizinho e que, segundo lhe contaram, a própria Deusa havia bloqueado a passagem do túnel já que as duas vilas viviam em desacordo. Só não entendia em desacordo sobre o que. Mas não demorou muito até que descobrisse. Não muitos dias depois que se mudaram ficaram sabendo da existência de um torneio culinário que acontecia praticamente todo mês e que a rivalidade entre as duas vilas era ferrenho.
"Isso explica bastante coisa," ela comentou com Nathan enquanto tomavam o café da manhã naquele dia. "E o que será que fazem com a comida que sobra?" Ela perguntou.
"Não sei. Eu até gostaria de ir e descobrir mas tenho que falar com o prefeito para resolver algumas coisas à respeito de nossa estadia. Mas por que você não aproveita a oportunidade e vai assistir à competição? Tenho certeza que se bem não fará, mal também não há de fazer."
Alisa concordou e se preparou para a escalada da montanha que separava as duas vilas para assistir à competição.

Alisa ficou surpresa de ver que o prefeito aguardava ansiosamente as pessoas que estavam vindo para a competição e pensou em como o padre Nathan iria se desapontar. Se juntou ao pequeno grupo de pessoas de Bluebell que haviam se reunido e começou a observar os competidores. Haviam duas mesas, cada uma com três pratos em exposição. Atrás de cada prato havia uma pessoa que Alisa assumiu serem os responsáveis pelo preparo do prato. Seus olhos pararam por um momento em um dos pratos que não tinha seu representante o vigiando, por assim dizer, e ficou curiosa. Não demorou muito para anunciarem que o concurso estava prestes a começar e Alisa se surpreendeu ao notar que o responsável pelo prato, que pertencia à outra vila, estava conversando com um casal que morava em Bluebell. Mas não se prendeu muito ao fato e assistiu o decorrer do concurso e a vitória da equipe de Bluebell. Houve um pouco de animosidade entre os dois prefeitos mas não lhe parecia algo tão ruim como haviam lhe feito entender. E aproveitou a oportunidade para perguntar o que seria feito com o que restava da comida para um dos participantes.
"Normalmente nós mesmos levamos de volta para casa," um homem alto lhe disse. "Mas se quiser levar, fique à vontade. Sou o dono do café em Bluebell, leve como cortesia e, se gostar, sinta-se à vontade para nos visitar e comer alguma coisa," o homem disse, exultante.
Alisa não se fez de rogada e agradeceu, tomando o prato e o levando de volta para a igreja.

Não demorou muito tempo até que as pessoas começassem a aparecer. Não que a igreja fosse muito frequentada, mas Alisa não se sentia incomodada com isso. Até o dia que o garoto que lhe chamou a atenção do vilarejo vizinho apareceu.
"Parece que finalmente este lugar esta habitado?" Ele disse, com um sorriso. "Ola, meu nome é Philip. E você, quem é?"
"Meu nome é Alisa," ela se apresentou formalmente.
Ele não era de aparecer muito na igreja mas, quando aparecia, sempre trazia algum tipo de comida.
"Howard é uma pessoa ocupada então não pode vir sempre. Mas eu trabalho na fazenda, tomando conta da minha plantação. Não é um trabalho muito difícil nem que toma todo o meu tempo. Ele pediu para que eu ficasse de olho em vocês para que não falte nada."
Era verão e Alisa não conseguiu não se sentir encantada com o rapaz quando ele trouxe sua comida preferida, sorvete de creme.
"É meu favorito," ela sussurrou.
"É mesmo?" Ele perguntou, surpreso. "Então vou te trazer um pouco todo dia. Nesse calor, não tem nada melhor que uma bola de sorvete de creme!' Ele complementou.
"Concordo plenamente," ela disse, sorrindo.

E Alisa se pegou comparando os dois. Philip e Mark. Alisa nunca havia visto nenhum dos dois trabalhando, mas assumia que os dois eram trabalhadores. Mark, no entanto, não podia ver um rabo de saia sem que seu lado don Juan de Marco aparecesse. No entanto, todas as garotas de Bluebell só tinham boas coisas para dizer de Philip.
"Meu irmão é uma pessoa muito séria," Lilian havia lhe dito. "Vocês dois são bem parecidos nesse ponto."
"Você me acha uma pessoa séria?" Alisa perguntou, surpresa. Ela se considerava muitas coisas, mas definitivamente não uma pessoa séria.
"Sim, acho. Você tem uma expressão difícil de ler, como a do meu irmão. Acredito que você tenha passado por muitas dificuldades. Posso dizer com certeza que ele passou. Por isso acho vocês dois parecidos."
Ouvir essas palavras fez com que Alisa ficasse curiosa sobre que tipo de sofrimento Philip havia passado. Seria dor de amor como a dela? Resolveu que perguntaria quando o visse novamente.

"Dor de amor?" Ele perguntou, coçando a cabeça. "Não, não sei se poderia dizer que ja sofri por amor, não. É que venho de uma família muito complicada, entende? Saí de casa quando ainda era um garoto e tenho vivido sozinho desde então. Creio que era esse o sofrimento a que Lilian se referiu," disse ele, comendo uma colherada do sorvete que havia trazido para comer com Alisa. "Mas ela tem razão quando diz que somos parecidos," ele completou. "Você realmente parece ter sofrido bastante na vida."
Alisa olhou longamente para seu sorvete, deixando que as palavras de Philip afundassem em sua mente, em sua alma e em seu coração. E sem perceber, seu coração doeu. De uma forma que ela nunca havia sentido antes. E as palavras da bruxa reverberaram em sua mente.

"Você não deve se apaixonar novamente. A dor seria inevitável."

"Alisa!"
Quando Alisa se deu por si, lágrimas rolavam pelo seu rosto e Philip segurava seus ombros com força, preocupação estampada em seu rosto.
"Desculpe," ela disse, enxugando as lágrimas com as costas de sua mão. "Acho que me distraí um pouco."
"Se distraiu...?" Ele perguntou, incrédulo.
E Alisa agradeceu que ele não fez nenhuma pergunta. Ele só ficou ali, ao lado dela, segurando sua mão e esfregando suas costas, como um adulto tentando acalmar uma criança depois que essa acorda de um pesadelo.
"Pensei que conseguiria manter o feitiço por mais tempo," pensou Alisa.

Naquela noite Alisa saiu e rumou ao topo da montanha. De todas as vezes que havia ido assistir os concursos culinários ela não pode deixar de perceber que havia uma fonte de água cristalina muito parecida com a que havia perto da igreja nas ilhas. E ela se sentia estranhamente calma quando olhava para aquelas águas. Aquela noite, no entanto, sua intenção era a de chorar. Chorar todas as lágrimas que precisava chorar. As de amores passados, de amores futuros e de seu amor presente.
"Me apaixonar por ele é um erro," ela sussurrou.
"Por que seria um erro?" Ela ouviu uma voz brincalhona.
Olhou para os lados mas não viu ninguém.
"Quem está aí?" Ela perguntou, assustada.
"Você sabe quem sou eu. Olhe para a água," disse a voz.
Alisa obedeceu e, quando olhou, viu a imagem de uma mulher com cabelos verdes, vestida em roupas que pareciam ser de seda que esvoaçavam ao vento. Só que não havia vento.
"Deusa da Colheita?" Ela perguntou, hesitante.
"Sim, sou eu mesma."
"Por que consigo te ver?" Ela perguntou, confusa.
"Por que não é a pergunta correta aqui," a Deusa começou. "Mas sim por que você tem tantas dúvidas."
"Não entendo," Alisa começou, mas a Deusa a interrompeu antes que pudesse dizer qualquer coisa.
"Todas as pessoas nasceram para amar. Por mais que você fuja, esse sentimento vai te perseguir para o resto da vida. cabe a você saber aproveitar o melhor do que o amor te traz. No entanto, você se prende às coisas ruins. Tente ver o lado positivo das coisas e você vai conseguir, um dia, amar de verdade. Seu coração dói hoje pois você não consegue perdoar as pessoas que já amou, nem se perdoar por tê-las amado. Permita-se amar e verá que será mais feliz."
"Me permitir amar?" Alisa repetiu, sem entender o que ela realmente queria dizer.
"Um dia você entenderá. Agora vá. Não consigo dormir com você choramingando."
"Me desculpe," ela disse. "E obrigada."

Alisa voltou à fonte no dia seguinte na esperança de ver a Deusa. E no outro. E no outro. Mas a Deusa não apareceu para ela novamente. E ela começou a pensar se havia sido um sonho. Era outono quando recebeu uma carta que há muito esperava. Uma carta do convento em que ela havia feito os votos. Havia uma foto do seu jardim e ela ficou encantada com como as flores estavam mesmo sendo bem cuidadas. E junto havia uma pequena nota da Madre.
"Todos sentimos sua falta. Esperamos que esteja bem. Que a Deusa derrame suas bençãos sobre você."
Aquela carta trouxe à Alisa uma nova resolução. Agora ela sabia o que tinha que fazer. E Philip foi o primeiro a ser informado de sua decisão.
"Voltar ao convento?" Ele perguntou.
"Sim," ela disse, encarando-o nos olhos. Ele não desviava o olhar.
"Entendo," ele disse, pegando as mãos dela e as segurando entre as suas. "Posso pedir um favor então?"
Alisa hesitou, mas balançou a cabeça em afirmação, e ele pousou as mãos dela sobre seu peito, de forma que ela sentisse as batidas de seu coração.
"Mas," ela tentou protestar, mas ele a interrompeu.
"Pense nisso como um favor. E não pense que estará me incomodando, sou eu que estou pedindo afinal."
Mais uma vez, Alisa concordou. Afinal, que mal poderia haver?

No entanto as coisas sempre parecem mais fáceis quando estão dentro de nossa mente. E quando chegou o momento de subir na embarcação Alisa não resistiu e começou a chorar. Philip a abraçou e ela tentou empurrá-lo.
"Você vai acabar com sua camisa encharcada," ela protestou.
"Pare de relutar," ele sussurrou. "Deixe que elas saiam e não se importe comigo."
Pela primeira vez Alisa se permitiu chorar nos braços de alguém. E realmente deixou de se importar se iria molhar a camisa dele ou não. Chorou e soluçou e se agarrou aos seus braços. Imaginou que ele fosse o professor e o garoto comprometido por quem se apaixonara na adolescência e que nunca poderiam entender nem aceitar seus sentimentos. Imaginou que ele fosse Mark e fez um pedido para que o garoto não tivesse que sofrer tanto como ela sofreu para algum dia conseguir entender como ela se sentia. E finalmente, levantando os olhos, olhou para Philip. o Homem que lhe abraçava naquele momento. A pessoa que ela não sabia se amava, se admirava, se respeitava. E sorriu.
"Você fica muito mais bonita quando sorri," ele disse, retornando o sorriso.
"Você também," disse ela.
E quando subiu na embarcação olhou uma ultima vez para tras. Para o que estava deixando naquela terra. E não se arrependeu. Dias melhores viriam, ela tinha certeza. E estava decidida a construir seu futuro de forma que, algum dia, pudesse olhar para o passado e pensar nele com carinho e não com rancor. De forma que, quando lembrasse, as memórias fossem apenas isso: memórias.

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